10. Dandavagga

Punição

 


 

 

Todos tremem diante da punição,
todos temem a morte.
Colocando-se no lugar dos outros,
não mate, nem faça com que os outros matem.
                                                        Dhp 129

Para ouvir

 


 

[Nota Verso 129] Maccuno bhayanti (temem a morte): o Budismo analisa o fenômeno da morte de maneira bastante extensa. A origem dependente, (paticca-samuppada), descreve o processo de renascimento em termos técnicos perspicazes, atribuindo a morte de um ser a uma das quatro seguintes causas:

1) O esgotamento do kamma de renascimento, (kammakkhaya). A doutrina Budista descreve que, como regra, o pensamento, a volição, ou o desejo, que é extremamente forte durante a vida, torna-se predominante no momento da morte e condiciona o nascimento subsequente. Nesse último processo de pensamento, (kamma mental), está presente uma potencialidade especial. Quando a potencialidade desse kamma de renascimento, (janaka), se esgota, cessam as atividades orgânicas da forma material, da qual faz parte a formação vital, até mesmo antes do término do tempo de vida estimado para aquele mundo específico. Isto acontece frequentemente no caso de seres que renascem nos estados de privação, (apaya), mas isso também pode acontecer em outros mundos de existência.

2) O esgotamento do tempo de vida, (ayukkhaya), que varia nos diferentes mundos de existência. Mortes naturais, devido à idade avançada, podem ser classificadas nesta categoria. Existem diferentes mundos de existência com diferentes tempos de vida. Independentemente da potencialidade do kamma de renascimento ainda restante, o ser irá, no entanto, sucumbir à morte quando o limite de tempo de vida é atingido. Se a potencialidade do kamma de renascimento for extremamente poderosa, o renascimento ocorrerá no mesmo mundo de existência, ou, no caso dos devas, em algum mundo de existência superior.

3) O esgotamento simultâneo do potencial do kamma de renascimento e do tempo de vida (ubhayakkhaya).

4) A ação contrária de um kamma mais forte, inesperadamente interrompendo o fluxo do kamma de renascimento antes do tempo de vida se esgotar (upacchedaka-kamma). Mortes súbitas prematuras e a morte de crianças são devidas a esta causa. Uma força contrária mais poderosa pode interceptar a trajetória de uma flecha no ar e derrubá-la no chão. Da mesma forma, um kamma muito forte do passado é capaz de anular o potencial do último processo de pensamento, e assim, colocar um fim na vida de um ser. A morte de Devadatta, por exemplo, ocorreu devido a um kamma destrutivo que ele praticou durante sua vida.

Os três primeiros são chamados conjuntamente de mortes no tempo certo, (kala-marana), enquanto que o quarto tipo é chamado de morte fora do tempo certo, (akalamarana). A chama de uma lamparina, por exemplo, pode se extinguir devido a uma das quatro causas seguintes - a saber, o esgotamento do pavio, o esgotamento do óleo, o esgotamento simultâneo do pavio e óleo, ou por alguma causa externa, como uma rajada de vento. Da mesma forma, a morte de um ser pode ocorrer devido a qualquer uma das quatro causas citadas anteriormente.

Pouquíssimas pessoas, de fato, estão preparadas para morrer. Elas querem viver mais e mais, uma ilusão que as pesquisas contemporâneas estão tornando mais possível de ser realizada. O desejo por mais e mais desta vida é um pouco atenuado, se a pessoa acreditar, como muitos fazem, que esta é apenas uma vida em uma série de outras vidas. As dores reais de morrer naturalmente variam e nem todas as pessoas passam por agonias físicas. Mas há um outro tipo de aflição; o estresse amedrontador criado na mente quando o corpo está morrendo - contra a vontade. Esta é realmente a prova final de que o corpo não nos pertence, pois se isso fosse verdade poderíamos fazer o que quiséssemos com ele; mas no momento da morte, embora queiramos a continuação da vida, o corpo simplesmente morre - e não há nada que possa ser feito com relação a isso. Se formos para a morte despreparados, então, no momento em que o corpo estiver morrendo, o medo e a insegurança serão experimentados, como resultado de se ter, erroneamente, identificado o corpo com sendo “eu”.

 

 

Revisado: 19 Janeiro 2013

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