Samyutta Nikaya LIV.13

Ananda Sutta

Ananda

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Em Savatthi. Então, o venerável Ananda foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo sentou a um lado e disse:

“Venerável senhor, existe uma coisa que quando desenvolvida e cultivada realiza quatro coisas? E quatro coisas que quando desenvolvidas e cultivadas realizam sete coisas? E sete coisas que quando desenvolvidas e cultivadas realizam duas coisas?”

“Há, Ananda, uma coisa que quando desenvolvida e cultivada realiza quatro coisas; e quatro coisas que, quando desenvolvidas e cultivadas realizam sete coisas; e sete coisas que quando desenvolvidas e cultivadas realizam duas coisas.”

“Mas, venerável senhor, qual é essa uma coisa que, quando desenvolvida e cultivada realiza quatro coisas; e quatro coisas que, quando desenvolvidas e cultivadas realizam sete coisas; e sete coisas que quando desenvolvidas e cultivadas realizam duas coisas?”

“A concentração através da atenção plena na respiração, Ananda, é uma coisa que quando desenvolvida e cultivada realiza os quatro fundamentos da atenção plena. Os quatro fundamentos da atenção plena quando desenvolvidos e cultivados realizam os sete fatores da iluminação. Os sete fatores da iluminação quando desenvolvidos e cultivados realizam o verdadeiro conhecimento e a libertação.

(I. A realização dos quatro fundamentos da atenção plena)

“Como, Ananda, a concentração através da atenção plena é desenvolvida e cultivada para que realize os quatro fundamentos da atenção plena? Aqui, Ananda, um bhikkhu, dirigindo-se à floresta ou à sombra de uma árvore ou a um local isolado; senta-se com as pernas cruzadas, mantém o corpo ereto e estabelecendo a plena atenção à sua frente, ele inspira com atenção plena justa, ele expira com atenção plena justa ... Ele treina dessa forma: ‘Eu inspiro contemplando a renúncia’; ele treina dessa forma: ‘Eu expiro contemplando a renúncia.’ [1]

“Sempre, Ananda, que um bhikkhu, inspirando longo, compreende: ‘Eu inspiro longo’; ou expirando longo, compreende: ‘Eu expiro longo.’ Inspirando curto, ele compreende: ‘Eu inspiro curto’; ou expirando curto, ele compreende: ‘Eu expiro curto.’ Quando ele treina assim: ‘ Eu inspiro experienciando todo o corpo’; quando ele treina assim: ‘Eu expiro experienciando todo o corpo.’ Quando ele treina assim: ‘Eu inspiro tranqüilizando a formação do corpo’; quando ele treina assim: ‘ Eu expiro tranqüilizando a formação do corpo’ – nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Por qual razão? Eu digo que esse é um corpo entre os corpos, Ananda, ou seja, a inspiração e a expiração. Portanto, Ananda, nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.

“Sempre, Ananda, que um bhikkhu treina assim: ‘Eu inspiro experienciando êxtase’; ele treina assim: ‘eu expiro experienciando êxtase.’ Ele treina assim:’eu inspiro experienciando a felicidade’; ele treina assim: ‘eu expiro experienciando a felicidade’. Ele treina assim: ‘eu inspiro experienciando a formação da mente’; ele treina assim: ‘eu expiro experienciando a formação da mente.’ Ele treina assim: ‘eu inspiro tranqüilizando a formação da mente’; ele treina assim: eu expiro tranqüilizando a formação da mente’ - nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando as sensações como sensações, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Por qual razão? Eu digo que essa é uma certa sensação entre as sensações, Ananda, ou seja, a cuidadosa atenção à inspiração e à expiração. Portanto, Ananda, nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando as sensações como sensações, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.

“Sempre, Ananda, que um bhikkhu treina assim: ‘eu inspiro experienciando a mente’; ele treina assim: ‘eu expiro experienciando a mente.’ Ele treina assim: ‘eu inspiro satisfazendo a mente’; ele treina assim: ‘eu expiro satisfazendo a mente.’ Ele treina assim: ‘eu inspiro concentrando a mente’; ele treina assim: eu expiro concentrando a mente.’Ele treina assim: ‘eu inspiro libertando a mente’; ele treina assim: eu expiro libertando a mente’ - nessa ocasião,, o bhikkhu permanece contemplando a mente como mente, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Por qual razão? Eu digo, Ananda, que não existe o desenvolvimento da concentração através da atenção plena na respiração naquele que é desatento e desprovido de plena consciência. Portanto, Ananda, nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando a mente como mente, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.

“Sempre, Ananda, que um bhikkhu treina assim: ‘Eu inspiro contemplando a impermanência’; ele treina assim: ‘eu expiro contemplando a impermanência.’ Ele treina assim: ‘eu inspiro contemplando o desaparecimento’; ele treina assim: ‘eu expiro contemplando o desaparecimento.’ Ele treina assim: ‘eu inspiro contemplando a cessação’; ele treina assim: ‘eu expiro contemplando a cessação.’ Ele treina assim: ‘eu inspiro contemplando a renúncia’; ele treina assim: ‘eu expiro contemplando a renúncia’ - nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Tendo visto através da sabedoria o abandono da cobiça e desprazer, ele é aquele que observa atento com equanimidade. Portanto, Ananda, nessa ocasião, o bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.

“Ananda, quando a concentração através da atenção plena na respiração é desenvolvida e cultivada desse modo é que ela realiza os quatro fundamentos da atenção plena.

(II. A realização dos sete fatores da iluminação)

“E como, Ananda, os quatro fundamentos da atenção plena são desenvolvidos e cultivados para que realizem os sete fatores da iluminação?

“Sempre, Ananda, que um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo, nessa ocasião, a atenção plena constante é estabelecida naquele bhikkhu. [2] Sempre, Ananda, que a atenção plena constante tenha sido estabelecida num bhikkhu, nessa ocasião, o fator da iluminação da atenção plena é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da atenção plena; nessa ocasião, o fator da iluminação da atenção plena alcança a sua plenitude através do seu desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Permanecendo assim com atenção plena, ele investiga aquele dhamma com sabedoria, ele o examina, faz uma análise. Sempre, Ananda, que um bhikkhu permanece assim com atenção plena, nessa ocasião, o fator da iluminação da investigação dos fenômenos é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da investigação dos fenômenos; nessa ocasião, o fator da iluminação da investigação dos fenômenos alcança a sua plenitude através do seu desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Enquanto ele investiga aquele dhamma com sabedoria, ele o examina, faz uma análise, a energia dele é estimulada sem enfraquecimento. Sempre, Ananda, que a energia de um bhikkhu é estimulada sem enfraquecimento enquanto ele investiga aquele dhamma com sabedoria, nessa ocasião, o fator da iluminação da energia é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da energia; nessa ocasião, o fator da iluminação da energia alcança a sua plenitude através do seu desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Quando a energia dele é estimulada, surge nele o êxtase. Sempre, Ananda, que o êxtase surge num bhikkhu cuja energia é estimulada, nessa ocasião, o fator da iluminação do êxtase é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação do êxtase; nessa ocasião, o fator da iluminação do êxtase alcança a sua plenitude através do seu desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Naquele cuja mente está elevada pelo êxtase, o corpo fica calmo e a mente fica tranqüila. Sempre, Ananda, que o corpo fica calmo e a mente fica tranqüila num bhikkhu cuja mente está elevada pelo êxtase, nessa ocasião, o fator da iluminação da tranqüilidade é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da tranqüilidade; nessa ocasião, o fator da iluminação da tranqüilidade alcança a sua plenitude através do desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Naquele em que o corpo está calmo e que sente felicidade, a mente se torna concentrada. Sempre, Ananda, que a mente fica concentrada num bhikkhu cujo corpo está calmo e que sente felicidade, nessa ocasião, o fator da iluminação da concentração é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da concentração; nessa ocasião, o fator da iluminação da concentração alcança a sua plenitude através do desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Ele olha de perto com equanimidade para a mente assim concentrada. Sempre, Ananda, que um bhikkhu olha de perto para a mente assim concentrada, nessa ocasião, o fator da iluminação da equanimidade é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da equanimidade; nessa ocasião, o fator da iluminação da equanimidade alcança a sua plenitude através do desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Sempre, Ananda, que um bhikkhu permanece contemplando sensações como sensações ... mente como a mente ... objetos mentais como objetos mentais, nessa ocasião, a atenção plena constante é estabelecida naquele bhikkhu. Sempre, Ananda, que a atenção plena constante tenha sido estabelecida num bhikkhu, nessa ocasião, o fator da iluminação da atenção plena é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da atenção plena; nessa ocasião, o fator da iluminação da atenção plena alcança a sua plenitude através do desenvolvimento naquele bhikkhu.

(Repetir a mesma formulação dada ao primeiro fundamento da atenção plena aos três fundamentos restantes)

“Ele olha de perto com equanimidade para a mente assim concentrada. Sempre, Ananda, que um bhikkhu olha de perto para a mente assim concentrada, nessa ocasião, o fator da iluminação da equanimidade é estimulado pelo bhikkhu; nessa ocasião, o bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da equanimidade; nessa ocasião, o fator da iluminação da equanimidade alcança a sua plenitude através do desenvolvimento naquele bhikkhu.

“Ananda, quando os quatro fundamentos da atenção plena são desenvolvidos e cultivados desse modo é que eles realizam os sete fatores da iluminação.

(III. A realização do verdadeiro conhecimento e libertação)

“Como, Ananda, os sete fatores da iluminação são desenvolvidos e cultivados para que realizem o verdadeiro conhecimento e libertação?

Aqui, Ananda, um bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da atenção plena, que tem como base o afastamento, desapego e cessação, que amadurece no abandono. Ele desenvolve o fator da iluminação da investigação dos fenômenos ... Ele desenvolve o fator da iluminação da energia ... Ele desenvolve o fator da iluminação do êxtase ... Ele desenvolve o fator da iluminação da tranqüilidade ... Ele desenvolve o fator da iluminação da concentração ... Ele desenvolve o fator da iluminação da equanimidade, que tem como base o afastamento, desapego e cessação, que amadurece no abandono.

“Ananda, quando os sete fatores da iluminação são desenvolvidos e cultivados desse modo é que eles realizam o verdadeiro conhecimento e libertação.”

 


 

Notas:

[1] Igual ao SN LIV.10. [Retorna]

[2] O que segue é igual ao SN XLVI.3 e também o MN 118.29. [Retorna]

 

 

Revisado: 9 Maio 2014

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