Discursos do Buda
sobre a Generosidade

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Introdução

Quando estamos falando dos ensinamentos do Buda, não podemos deixar de lado três aspectos bem importantes: kamma, renascimento e planos de existência. Kamma é a doutrina de que nossas ações geram frutos, resultados. O Buda definiu kamma como intenção (AN VI.63); em outras palavras, tendo intencionado, agimos através da mente, da fala e do corpo. O acúmulo de kamma durante o curso de uma vida inteira é o que nos leva a renascer vez após vez. Estamos presos em um ciclo existencial, de nascimento, envelhecimento e morte. As pessoas estão em contato com isso o tempo todo, mas não percebem a relevância desses três mensageiros. E dentro desse ciclo de renascimentos, temos os diferentes mundos ou planos no qual o fluxo de consciência pode renascer. Aqui mesmo em nossa terra vemos dois destes – o plano humano e o plano dos animais. Fora estes, o Buda havia declarado que existem outros mais do que nossa vã concepção de mundo possa imaginar.

É dentro deste contexto que devemos enxergar a importância da generosidade. O objetivo final de nossa jornada como Budistas é eventualmente sair desse ciclo de morte e renascimento, repleto de sofrimento e insatisfação. O Buda traçou três coisas para seus seguidores leigos cultivarem, para que possam avançar nesta jornada – generosidade, virtude e a prática da meditação. Uma pessoa avara, mesquinha, por exemplo, não consegue progredir na meditação devido ao fato de sua mente estar suja com a mancha do egoísmo.

Lembro-me muito bem da primeira vez que estava lendo estes suttas e a impressão que eles causaram em mim. Foi numa madrugada de Novembro de 2012, e era um study-guide (guia de estudos) feito pelo Ven. Thanissaro Bhikkhu. Muitos dos suttas que estavam naquele study-guide estão aqui também, com a inclusão de alguns outros que não aparecem na coleção feita por ele. Espero que esta coletânea possa exercer o mesmo efeito na mente dos leitores que exerceu na minha, isto é, a de nos inspirarmos a sermos generosos.

Logo quando iniciei meus estudos dos suttas eu estava mais interessado no lado que pode ser mais atraente para a maioria das pessoas à primeira vista – a recompensa e promessa de um bom renascimento, seja neste mundo ou num mundo celestial. Afinal, quem não gostaria disso, e se para isso basta fazer ações generosas, porque não tentar? O que eu teria a perder com isso? Não muito, não é como se eu fosse doar coisas que iriam me fazer falta. Eu já havia trabalhado com ações sociais antes quando frequentava o centro espírita de minha cidade natal. Lá eles fazem a Campanha do Quilo no primeiro Domingo de todo mês. Coletam alimentos para doarem para pessoas de áreas carentes que vão até lá pegarem uma cesta básica que montamos a partir das doações que recebemos das pessoas. E naquele tempo eu participava disso sem a intenção ou conhecimento de que tal tipo de ação poderia me levar a um rumo mais feliz ainda nesta vida ou na próxima – e minha mente se alegrava (como ainda se alegra) ao fazer este tipo de serviço. Então porque não se sentir mais motivado ainda tendo fé de que há bons resultados para este tipo de ação?

Bem, com o passar do tempo meu conhecimento acerca do Dhamma foi amadurecendo e fui refletindo mais a respeito – a vida dos seres humanos é curta, quem tem sorte vai além dos cem anos, mas geralmente em condições debilitadas. E a própria vida dos seres celestiais, por mais longa que seja, e por mais alegre e bem aventurada também, é igualmente impermanente, chega a um fim assim como a dos seres humanos. Então eu refletia, “Não há segurança nem mesmo no mundo dos devas e não é possível prever o curso de renascimento dos seres, se irão nascer em uma boa destinação ou em uma má”. Os suttas dizem que só há uma forma de se garantir bons renascimentos apenas, até o momento em que eventualmente iremos deixar o Samsara – e isto é, tornar-se um Sotapanna ou Alguém que Entrou na Correnteza (que conduz até Nibbana). Desde então toda e qualquer boa ação que faço é com a intenção (kamma) de que eu possa desfrutar deste grande mérito de que minha mente entre na correnteza nesta vida ainda.

É importante que mantenhamos esse senso de urgência em nossos corações, sobre a incerteza da vida, a certeza da morte e a incerteza sobre onde iremos renascer futuramente e estarmos nos perguntando – que estamos fazendo para adiantar nosso progresso? Tal senso é o que nos motiva primeiramente a realizarmos ações hábeis. A prática da generosidade dentro deste contexto assume fundamental importância para nós. A bondade que praticamos não é perdida, e o Buda nos promete que cedo ou tarde iremos sempre receber os frutos dela. Para aqueles que se esforçam por realizar o Dhamma aqui mesmo nesta vida, ela é um fator crucial para nosso progresso rumo ao fim do sofrimento. Portanto, espero que todos possam tirar bons proveitos destas leituras e que possamos fazer o bem aos outros, não só com uma mente que esteja almejando as recompensas e frutos destas boas ações, mas sim com uma mente que se inclina a cada vez mais se desprender até alcançar a Outra Margem – Nibbana.

                                                                                                          Davi Coêlho,
                                                                                                      26 de Janeiro, 2014.

 


 

Aquele que pratica a generosidade não deve temer o rumo de seu próximo renascimento:

 

“Por que tantas pessoas aqui estão amedrontadas
quando o caminho foi ensinado com tantas bases?
Eu lhe pergunto, Oh Gotama, amplo em sabedoria:
sobre o que nos devemos apoiar
para não temermos o próximo mundo?”

“Tendo corretamente direcionado a linguagem e a mente,
sem praticar ações ruins com o corpo,
habitando o lar com farta comida e bebida,
dotado de fé, gentil, generoso, amigável:
quando alguém se apoia sobre essas quatro coisas,
não se deve temer o próximo mundo.”

[SN I.75]

 


 

Não se arrependa da generosidade que você pratica:

 

Em Savatthi. Então o rei Pasenadi foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo sentou a um lado. O Abençoado então disse o seguinte:

"Grande rei, de onde você está vindo no meio do dia?"

"Aqui, venerável senhor, um banqueiro em Savatthi morreu, eu venho depois de transportar a sua riqueza para o palácio visto que ele morreu sem deixar testamento."

"Assim é, grande rei, assim é grande rei. Uma vez no passado um banqueiro ofereceu comida esmolada para um paccekabuddha chamado Tagarasikhi. Tendo dito, 'Dê comida para o contemplativo,' ele levantou do seu assento e partiu. Mas depois de ter dado ele se arrependeu, pensando: 'Teria sido melhor se os escravos ou trabalhadores tivessem comido aquilo!' Além disso ele matou o único filho do seu irmão para herdar a sua fortuna.

"Visto que o banqueiro ofereceu comida ao paccekabuddha Tagarasikhi, como resultado desse kamma ele renasceu sete vezes num destino feliz. Como resultado desse kamma ele obteve por sete vezes a posição de banqueiro aqui mesmo em Savatthi. Mas como mais tarde ele se arrependeu da oferenda, como resultado residual desse kamma a sua mente não se inclinava para o prazer da boa comida, das boas roupas e dos bons veículos, nem para o prazer derivado dos cinco elementos do prazer sensual. E visto que aquele banqueiro matou o único filho do seu irmão para herdar a sua fortuna, como resultado desse kamma ele sofreu no inferno por muitas centenas de anos, por muitos milhares de anos. Como resultado residual desse kamma ele deixou para o tesouro real sete fortunas.

"O antigo mérito desse banqueiro está completamente exaurido e ele não acumulou novos méritos. Assim hoje, grande rei, esse banqueiro está sendo assado no grande inferno Roruva."

"Então, venerável senhor, esse banqueiro renasceu no grande inferno Roruva?"

"Sim grande rei, esse banqueiro renasceu no grande inferno Roruva."

"Grãos, riqueza, ouro, e prata,
ou quaisquer outras posses,
escravos, trabalhadores, mensageiros,
todos aqueles que vivem como dependentes:
sem levar nada consigo ele tem que partir,
tudo tem que ser deixado para trás.

"Mas aquilo que foi feito através do corpo,
linguagem ou mente:
isso deveras lhe pertence,
isso ele leva ao partir;
isso é aquilo que o segue
tal como uma sombra que nunca parte.

"Portanto faça o bem
como uma coleção para a vida futura.
Méritos é aquilo que sustenta os seres vivos
ao surgirem no outro mundo."

[SN III.20]

 


 

Se as pessoas apenas soubessem os benefícios de ser generoso:

 

Isto foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Se os seres soubessem, como eu sei, os resultados de dar e compartir, eles não comeriam sem antes ter dado, nem permitiriam que a mácula do egoísmo tome conta das suas mentes. Mesmo se fosse o seu último bocado, a sua última mordida, eles não comeriam sem ter compartido, se houvesse alguém com quem compartir. Mas porque os seres não sabem, como eu sei, os resultados de dar e compartir, eles comem sem ter dado. A mácula do egoísmo toma conta das suas mentes.”

Se os seres soubessem
aquilo que o Grande Sábio disse,
que o resultado da generosidade
produz tão grande fruto,
então, subjugando a mácula do egoísmo
com a mente luminosa,
eles dariam no momento apropriado
para os nobres,
onde uma oferenda produz grandes frutos.

Tendo dado comida
como uma oferenda
para aqueles dignos de oferendas,
muitos doadores,
quando aqui falecem,
do estado humano,
vão
para o paraíso.

Eles, tendo ido para
o paraíso,
se regozijam,
desfrutando dos prazeres sensuais,
sem egoísmo, eles
participam do resultado
da generosidade.

[It 26]

 


 

Quais as intenções por trás de se dar um presente, e quais os resultados:

 

Ouvi que em certa ocasião o Abençoado estava em Campa, às margens do lago Gaggara. Então um grande grupo de discípulos leigos de Campa foram até o Venerável Sariputta e, quando chegaram, depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e disseram:

"Já faz muito tempo, venerável senhor, desde que tivemos a oportunidade de ouvir um discurso do Dhamma na presença do Abençoado. Seria bom se pudéssemos ouvir um discurso do Dhamma na presença do Abençoado."

"Então nesse caso, meus amigos, retornem no próximo dia de Uposatha, e talvez vocês possam ouvir um discurso do Dhamma na presença do Abençoado."

"Assim seja, venerável senhor," os discípulos leigos de Campa disseram para o Venerável Sariputta. Levantando-se dos seus assentos, e depois de homenageá-lo, mantendo-o à sua direita, partiram. Então no próximo dia de Uposatha, os discípulos leigos de Campa foram até o Venerável Sariputta e, tendo chegado, depois de cumprimentá-lo, ficaram em pé a um lado. Então o Venerável Sariputta, juntamente com os discípulos leigos de Campa, foram até o Abençoado e chegando, depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e o Venerável Sariputta disse para o Abençoado:

"Pode haver o caso em que uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios?"

"Sim, Sariputta, há o caso em que uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios."

"Senhor, qual é a causa, qual é a razão, porque uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios?"

"Sariputta, há o caso em que a pessoa dá uma oferenda buscando seu próprio benefício, com sua mente apegada [à recompensa], pensando em acumulá-la para si mesma [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa , Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"

"Sim, senhor."

"Tendo dado essa oferenda buscando seu próprio benefício, com sua mente apegada [à recompensa], pensando em acumulá-la para si mesma [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' - na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas dos Quatro Grandes Reis. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.

"Então há o caso em que a pessoa dá uma oferenda sem buscar seu próprio benefício, sem a mente apegada [à recompensa], não pensando em acumulá-la para si mesma nem [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' Ao invés disso, ela dá uma oferenda com o pensamento ‘A generosidade é boa.’ Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina- para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa , Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"

"Sim, senhor."

"Tendo dado essa oferenda com o pensamento, ‘A generosidade é boa,’ na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Tavatimsa. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.

"Ou, ao invés de pensar ‘A generosidade é boa’ ela dá a oferenda com o pensamento, 'Isto foi dado no passado, feito no passado, por meu pai e avô. Não seria correto que eu permitisse que esse antigo costume da família fosse descontinuado' ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Yama. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.

"Ou, ao invés de pensar ... ela dá uma oferenda com o pensamento, ‘Eu sou próspero. Eles não são prósperos. Não seria correto, que em sendo eu próspero, não desse uma oferenda para aqueles que não são prósperos ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Tusita. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.

"Ou, ao invés de pensar … ela dá uma oferenda com o pensamento ‘Tal como no passado houve o sacrifício dos sábios - Atthaka, Vamaka, Vamadeva, Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja, Vasettha, Kassapa, e Bhagu - da mesma forma essa será a minha distribuição de oferendas’ ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas Nimmanarati. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.

"Ou, ao invés de pensar … ela dá uma oferenda com o pensamento, ‘Quando esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria’ ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas Paranimmita-vasavatti. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.

"Ou, ao invés de pensar ‘Quando esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria’ ela dá uma oferenda com o pensamento ‘Isto é um ornamento para a mente, um suporte para a mente.’ Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa , Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"

"Sim, senhor."

"Tendo dado isso, sem buscar seu próprio benefício, nem com a mente apegada [à recompensa], pensando em acumulá-la para si mesmo [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.'

" – nem com o pensamento, 'A generosidade é boa,’

" – nem com o pensamento, 'Isto foi dado no passado, feito no passado, por meu pai e avô. Não seria correto que eu permitisse que esse antigo costume da família fosse descontinuado,'

" - nem com o pensamento, ‘Eu sou próspero. Eles não são prósperos. Não seria correto, em sendo eu próspero, não desse uma oferenda para aqueles que não são prósperos,' nem com o pensamento, ‘Tal como no passado houve o sacrifício dos sábios - Atthaka, Vamaka, Vamadeva, Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja, Vasettha, Kassapa, e Bhagu - da mesma forma essa será a minha distribuição de oferendas,’

" – nem com o pensamento, ‘Quanto esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria,’

" – porém com o pensamento, ‘Isto é um ornamento para a mente, um suporte para a mente.’ - na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Cortejo de Brahma. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela não retorna. Ela não retornará a este mundo.

"Essa, Sariputta, é a causa, essa é a razão, porque uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e não resulta em grandes frutos ou grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e resulta em grandes frutos e grandes benefícios."

[AN VII.49]

 


 

Quais os resultados para uma pessoa que faz a caridade conscientemente:

 

"Bhikkhus, há cinco benefícios da generosidade. Quais cinco? (1) A pessoa é estimada pelas pessoas em geral. (2) A pessoa tem pessoas verdadeiras como companheiros. (3) Ela desfruta de boa reputação. (4) A pessoa não se esquiva das responsabilidades de um chefe de família. (5) Na dissolução do corpo após a morte, ela renasce num destino feliz, no paraíso."

[AN V.35]

* * *

“Bhikkhus, há essas cinco oferendas de uma pessoa verdadeira. Quais cinco? Uma pessoa verdadeira dá uma oferenda com base na fé; ela dá uma oferenda respeitosamente; ela dá uma oferenda no momento apropriado; ela dá uma oferenda com o coração empático; ela dá uma oferenda sem afetar de modo adverso a si mesma ou os outros.

“Porque ela dá uma oferenda com base na fé, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza, e ela será bela, atraente, graciosa, com a complexão de uma flor de lótus.

“Porque ela dá uma oferenda respeitosamente, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E os seus filhos, esposas, escravos, serviçais e empregados lhe dão ouvidos com atenção, são obedientes e a atendem com o coração compreensivo.

“Porque ela dá uma oferenda no momento apropriado, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E os seus objetivos são realizados no momento apropriado.

“Porque ela dá uma oferenda com o coração empático, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E a sua mente se inclina pelo gozo de excelentes prazeres dos sentidos.

“Porque ela dá uma oferenda sem afetar de modo adverso a si mesma ou os outros, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E de onde quer que seja não ocorre perda da sua riqueza, quer seja através do fogo, da água, de reis, de ladrões ou de parentes detestáveis.

“Essas são as oferendas de uma pessoa verdadeira.”

[AN V.148]

 


 

Não seja como uma nuvem que não chove:

 

Isto foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: "Bhikkhus, esses três tipos de pessoas podem ser encontradas no mundo. Quais três? Igual a uma nuvem que não chove, igual a uma nuvem que chove num lugar, e igual a uma nuvem que chove em todos lugares.

"Como, bhikkhus, é a pessoa igual a uma nuvem que não chove? Aqui, uma certa pessoa não dá nada para ninguém; ela não dá comida, bebida, roupas, veículos, grinaldas, perfumes, ungüentos, camas, moradia, e lamparinas para contemplativos e brâmanes, para os pobres, destituídos e carentes. Esse tipo de pessoa é igual a uma nuvem que não chove.

"Como, bhikkhus, é a pessoa igual a uma nuvem que chove num lugar? Aqui, uma certa pessoa dá para alguns mas não dá para outros; comida, bebida, roupas, veículos, grinaldas, perfumes, ungüentos, camas, moradia, e lamparinas ela dá apenas para alguns contemplativos e brâmanes, apenas para alguns dos pobres, destituídos e carentes. Esse tipo de pessoa é igual a uma nuvem que chove num lugar.

"Como, bhikkhus, é a pessoa igual a uma nuvem que chove em todos lugares? Aqui, uma certa pessoa dá para todos; comida, bebida, roupas, veículos, grinaldas, perfumes, ungüentos, camas, moradia, e lamparinas ela dá para todos contemplativos e brâmanes, para todos os pobres, destituídos e carentes. Esse tipo de pessoa é igual a uma nuvem que chove em todos lugares.

"Esses, bhikkhus, são os três tipos de pessoas podem ser encontradas no mundo."

Nem para contemplativos, nem para os brâmanes,
nem para os pobres e destituídos
ele distribui o seu estoque
de alimentos e bebidas e bens;
essa pessoa vil é chamada
"igual a uma nuvem sem chuva."

Para alguns ela não dá,
para alguns ela oferece esmolas;
as pessoas sábias lhe dizem
"igual a uma nuvem que chove num lugar."

Uma pessoa renomada por sua generosidade,
compassiva em relação a todos os seres,
distribui esmolas com alegria.
"Dê! Dê!" Ela diz.

Como uma grande nuvem em uma tempestade
que troveja e chove
preenchendo as planícies e os vales,
saturando a terra com água,
assim é essa pessoa.

Tendo obtido riqueza de forma justa
através do próprio esforço,
ela satisfaz plenamente com alimento e bebida
todos aqueles que precisam.

[It 75]

 


 

Todas as famílias que hoje vivem em abundância, vivem devido ao fato de terem sido generosas em vidas prévias:

 

Em certa ocasião o Abençoado, enquanto perambulava em Kosala juntamente com uma grande comunidade de bhikkhus, chegou em Nalanda ficando no Manguezal de Pavarika.

Agora naquela ocasião Nalanda estava no meio de uma grande fome, em uma época de escassez, as lavouras brancas com crestamento e transformadas em palha. E naquela época Nigantha Nataputta estava em Nalanda juntamente com uma grande companhia de niganthas. Então o chefe tribal Asibandhakaputta, um discípulo dos niganthas, foi até Nigantha Nataputta e, ao chegar, depois de cumprimentá-lo, sentou a um lado e o Nigantha Nataputta disse: “Venha, agora, chefe tribal, refute as palavras do contemplativo Gotama, e essa maravilhosa notícia se espalhará ao seu respeito: ‘As palavras do contemplativo Gotama – tão forte tão poderoso – foram refutadas pelo chefe tribal Asibandhakaputta!’”

“Mas como, venerável senhor, irei refutar as palavras do contemplativo Gotama – tão forte, tão poderoso?”

“Venha agora, chefe tribal, vá até o contemplativo Gotama e diga isto: ‘Venerável senhor, o Abençoado em muitos modos não louva a bondade, proteção e simpatia por famílias?’ Se o contemplativo Gotama, assim questionado, responder, ‘Sim, chefe, o Tathagata em muitos modos louva a bondade, proteção e simpatia por famílias,’ então você deve dizer, ‘Então porque, venerável senhor, o Abençoado, juntamente com uma grande comunidade de bhikkhus, está em Nalanda durante uma época de fome, uma época de escassez, quando as lavouras estão brancas com crestamento e transformadas em palha? O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda das famílias.’ Quando essa questão com duas pontas for colocada para o contemplativo Gotama, ele não terá como engoli-la ou cuspi-la.”

Respondendo, “Como quiser, venerável senhor,” o chefe tribal Asibandhakaputta levantou-se de seu assento, e depois de homenagear o Nigantha Nataputta, mantendo-o à sua direita foi até o Abençoado. Ao chegar, depois de cumprimentá-lo, ele sentou a um lado, e disse para o Abençoado: “Venerável senhor, o Abençoado em muitos modos não louva a bondade, proteção e simpatia por famílias?”

“Sim, chefe, o Tathagata em muitos modos louva a bondade, proteção e simpatia por famílias.”

“Então porque, venerável senhor, o Abençoado, juntamente com uma grande comunidade de monges, está em Nalanda durante uma época de fome, uma época de escassez, quando as lavouras estão brancas com crestamento e transformadas em palha? O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda de famílias.”

“Chefe tribal, recordando-me de 91 éons, eu não conheço nenhuma família que tenha sido trazida à ruína através da doação de comida. Pelo contrário: quaisquer famílias que hoje são ricas – com muita opulência, muitas posses, uma grande quantia de dinheiro, um grande acúmulo de riqueza, e muitas comodidades – todas se tornaram assim a partir da generosidade, da verdade, da contenção.

“Chefe tribal, há oito causas, oito motivos para a queda das famílias. Famílias vão para seu fim por causa de reis, ou famílias vão para o seu fim por causa de ladrões, ou famílias vão para seu fim por causa de fogo, ou famílias vão para seu fim por causa de enchentes, ou seus tesouros guardados desaparecem, ou seus empreendimentos são mal administrados, ou na família nasce um vagabundo que esbanja, espalha e espatifa sua fortuna, e a impermanência é a oitava. Estas são as oito causas, os oito motivos para a queda das famílias. Agora, quando estas oito causas, estes oito motivos são encontrados, se alguém disser de mim, ‘O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda de famílias’ – sem abandonar essa afirmação, sem ter abandonado essa intenção, sem ter descartado essa opinião – então é como se tendo sido arrastado, ele assim seria lançado no inferno.”

Quando isso foi dito, o chefe tribal Asibandhakaputta, disse para o Abençoado: “Magnífico, Venerável senhor! Magnífico, Venerável senhor! O Abençoado esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado em pé o que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Nós buscamos refúgio no Abençoado, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Abençoado nos aceite como discípulo leigo que nele buscou refúgio para o resto da vida.”

[SN XLII.9]

 


 

A vida é incerta, a morte é uma certeza. Compreendendo isso, não devemos negligenciar a oportunidade de sermos generosos:

 

Assim ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava em Savathi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então, quando a noite estava bem avançada, uma certa devata com belíssima aparência que iluminou todo o Bosque de Jeta, se aproximou do Abençoado. Ao se aproximar ela homenageou o Abençoado e ficando em pé a um lado a devata disse:

“Quando a casa está em chamas
o balde removido
é aquele que é útil,
não aquele que foi deixado para queimar lá dentro.

“Portanto, quando o mundo arde
com [as chamas] do envelhecimento e morte,
ele deveria remover [sua riqueza] sendo generoso:
aquilo que é dado está bem salvo.

“Aquilo que é dado produz bons frutos,
mas não aquilo que não é dado.
Ladrões ou reis roubam-no,
é queimado pelo fogo ou perdido.

“Então, no final ele deixa o corpo
junto com as suas posses.
Ao compreender isso, a pessoa sábia
deve desfrutar e também dar.
Ao dar e desfrutar de acordo com os seus meios,
inculpável ela segue para o paraíso.”

[SNI.41]

 


 

Cinco coisas que uma pessoa generosa dá, e cinco coisas que ela recebe:

 

“Ao dar uma refeição, o doador dá cinco coisas a quem recebe. Quais cinco? Ele ou ela dá vida, beleza, felicidade, força e discernimento. Tendo dado vida, ele ou ela tem uma cota em longa vida, seja humana ou divina. Tendo dado beleza, ele ou ela tem uma cota em beleza, seja humana ou divina. Tendo dado felicidade, ele ou ela tem uma cota em felicidade, seja humana ou divina. Tendo dado força, ele ou ela tem uma cota em força, seja humana ou divina. Tendo dado discernimento, ele ou ela tem uma cota em discernimento, seja humano ou divino. Ao dar uma refeição, o doador dá estas cinco coisas a quem recebe.”

A pessoa prudente dando vida, força,
beleza, discernimentoo –
a pessoa sábia, um doador de felicidade,
alcança a felicidade ele mesmo.
Tendo dado vida, força, beleza,
felicidade, discernimento,
ela tem longa vida e status
onde quer que renasça.

[AN V.37]

 


 

Os momentos propícios para dar um presente ou oferenda:

 

“Existem essas cinco oferendas oportunas. Quais cinco? Alguém dá para um recém-chegado. Alguém dá para quem vai partir. Alguém dá para quem esteja enfermo. Alguém dá em época de fome. Alguém dá os primeiros frutos do campo e do pomar para aqueles que são virtuosos. Essas são as cinco oferendas oportunas.”

Na época oportuna eles dão -
aqueles com sabedoria,
responsivos, livres da avareza.
Tendo dado na época oportuna,
com os corações inspirados pelos Nobres
- eretos, Assim -
as suas oferendas produzem abundância.
Aqueles que se regozijam com essa oferenda
ou dão assistência,
eles, também, compartem do mérito,
e a oferenda não fica esgotada por isso.
Assim, com a mente sem hesitação
a pessoa deve dar onde a oferenda produz bons frutos.

Mérito é o que estabelece
os seres na próxima vida.

[AN V.36]

 


 

Toda generosidade é uma fonte de mérito, porém, algumas ações geram mais mérito do que outras:

 

Então o errante Vacchagotta foi até o Abençoado e depois da troca de saudações corteses e amáveis ele sentou a um lado e disse: “Mestre Gotama, eu ouvi que ‘O contemplativo Gotama diz o seguinte: “Apenas para mim devem ser dadas oferendas, não para os outros. Apenas para os meus discípulos devem ser dadas oferendas, não para os discípulos dos outros. Apenas aquilo que é dado para mim gera grandes frutos e não aquilo que é dado para os outros. Apenas aquilo que é dado para os meus discípulos gera grandes frutos e não aquilo que é dado para os discípulos dos outros.”’ Agora, aqueles que assim dizem, falam aquilo que foi dito pelo Mestre Gotama e não o deturpam com algo contrário aos fatos? Eles explicam de acordo com o Dhamma de tal modo que nada que possa dar margem à censura possa de forma legítima ser deduzido da declaração deles? Pois nós não queremos deturpar o Mestre Gotama.”

“Vaccha, qualquer um que diga isso: ‘O contemplativo Gotama diz o seguinte: “Apenas para mim devem ser dadas oferendas ... Apenas aquilo que é dado para os meus discípulos gera grandes frutos e não aquilo que é dado para os discípulos dos outros,”’ não estão falando aquilo que foi dito por mim e estão me deturpando com algo contrário aos fatos.

“Vaccha, qualquer um que impeça um outro de dar uma oferenda cria três obstruções, três impedimentos. Quais três? Ele impede o doador de realizar uma ação meritória, ele impede que o recebedor receba a oferenda, e antes disso ele mina e danifica o seu próprio eu. Qualquer um que impeça um outro de dar uma oferenda cria essas três obstruções, esses três impedimentos.

“Eu lhe digo, Vaccha, mesmo se uma pessoa jogar fora o enxágue de uma tigela ou xícara no lago ou lagoa de um vilarejo, pensando, ‘Que os animais que aqui vivem se alimentem disso,’ isso seria uma fonte de mérito, para não dizer daquilo que é dado para os seres humanos. Mas eu digo que aquilo que é dado para uma pessoa virtuosa gera grandes frutos, nem tanto aquilo que é dado para a pessoa não virtuosa. A pessoa virtuosa abandonou cinco qualidades e possui outras cinco qualidades.

“Quais são as cinco qualidades que ela abandonou? Ela abandonou o desejo sensual … a má vontade … o torpor e a preguiça ... a inquietação e a ansiedade ... a dúvida. Essas são as cinco qualidades que ela abandonou. E quais são as cinco qualidades que ela possui? Ela possui o agregado de virtude de quem está além do treinamento ... o agregado da concentração de quem está além do treinamento … o agregado da sabedoria de quem está além do treinamento ... o agregado da libertação de quem está além do treinamento ... o agregado do conhecimento e visão da libertação de quem está além do treinamento. Essas são as cinco qualidades que ela possui.

“Eu lhe digo: Aquilo que é dado para alguém que abandonou essas cinco qualidades e que possui essas outras cinco qualidades, gera grandes frutos.”

[AN III.57]

* * *

Em Savatthi. Sentado a um lado, o rei Pasenadi de Kosala disse para o Abençoado:

“Onde, venerável senhor, deve uma oferenda ser dada?”

“Em qualquer lugar em que a mente sinta confiança, grande rei.”

“Mas uma oferenda dada onde, senhor, resulta em grandes frutos?”

“Esta [questão] é uma coisa, grande rei - ‘Onde deve uma oferenda ser dada?’ - enquanto essa - ‘Onde é que uma oferenda dada resulta em grandes frutos’ - é algo totalmente diferente. O que é dado a uma pessoa virtuosa - ao invés de a uma pessoa não virtuosa - resulta em grandes frutos.” Neste caso, grande rei, eu lhe farei uma contra pergunta. Responda como quiser.

O que você pensa, grande rei? Suponha que você estivesse em guerra e uma batalha fosse iminente. E um jovem khattiya se aproximasse – sem treinamento, sem prática, indisciplinado, temeroso, aterrorizado, covarde, rápido na fuga. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?”

“Não, venerável senhor, eu não o aceitaria. Eu não teria como aproveitar um homem como esse.”

“Então, um jovem brâmane … um jovem comerciante … um jovem trabalhador se aproximasse – sem treinamento, sem prática, indisciplinado, temeroso, aterrorizado, covarde, rápido na fuga. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?

“Não, venerável senhor, eu não o aceitaria. Eu não teria como aproveitar um homem como esse.”

“Agora, o que você pensa, grande rei? Suponha que você estivesse em guerra e uma batalha fosse iminente. Um jovem khattiya se aproximasse – treinado, com prática, disciplinado, destemido, corajoso, pronto para defender seu posto. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?”

“Sim, venerável senhor, eu o aceitaria. Eu teria como aproveitar um homem como esse.”

“Então um jovem brâmane … um jovem comerciante … um jovem trabalhador se aproximasse – treinado, com prática, disciplinado, destemido, corajoso, pronto para defender seu posto. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?”

“Sim, venerável senhor, eu o aceitaria. Eu teria como aproveitar um homem como esse.”

“Da mesma forma, grande rei. Quando alguém abandonou a vida em família e seguiu a vida santa – não importando o seu clã – e ele abandonou cinco fatores e está dotado de cinco fatores, aquilo que lhe é dado resulta em grandes frutos.

E quais são os cinco fatores que ele abandonou? Ele abandonou o desejo sensual ... má vontade ... preguiça e torpor ... inquietação e ansiedade ...e dúvida. Esses são os cinco fatores que ele abandonou. E quais são os cinco fatores dos quais ele está dotado? Ele está dotado do agregado da virtude de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado da concentração de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado da sabedoria de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado da libertação de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado do conhecimento e visão da libertação de alguém que está mais além do treinamento. Esses são os cinco fatores dos quais ele está dotado.

“Aquilo que é dado para aquele que abandonou cinco fatores e está dotado de cinco fatores resulta em grandes frutos.”

Isso foi o que o Abençoado disse. Dito isso, o Iluminado, o Mestre disse ainda mais:

“Como um rei decidido pela batalha
contrataria um jovem que tivesse habilidades com o arco,
alguém dotado de força e vigor,
mas não o covarde apenas devido ao seu nascimento – 

e muito embora ele possa ter um nascimento inferior,
a pessoa com a conduta nobre deve ser honrada,
o sábio no qual estão estabelecidas
as virtudes da paciência e nobreza.

“Ele deve construir retiros agradáveis
e convidar os sábios para ali habitarem;
ele deve construir reservatórios nas florestas
e trilhas no terreno acidentado.

“Com o coração confiante ele deve dar,
para aqueles com o caráter íntegro:
dar comida e bebida e coisas para comer,
roupas para vestir e camas e assentos.

“Pois, tal como uma nuvem trovejante,
enfeitada por raios com cem cristas,
derrama a chuva sobre a terra,
preenchendo a planície e os vales -

Da mesma forma o homem sábio, fiel, estudado,
ao preparar uma refeição,
satisfaz com comida e bebida
os mendicantes que vivem de esmolas.
Alegrando-se, ele distribui oferendas,
e proclama, ‘Dar, dar.’   

“Pois esse é o trovão dele
tal qual o céu quando chove.
Essa chuva de mérito, tão abundante,
derramar-se-á sobre o doador.”

[SN III.24]

 


 

Os resultados da generosidade que você prática o acompanha em qualquer plano que você renasça:

 

Certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então a Princesa Sumana, acompanhada por quinhentas carruagens e quinhentas acompanhantes da corte foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo ela sentou a um lado e disse para o Abençoado:

"Aqui, venerável senhor, podem haver dois discípulos do Abençoado iguais em convicção, comportamento virtuoso e sabedoria, mas um deles é generoso enquanto que o outro não é. Com a dissolução do corpo, após a morte. ambos renasceriam num destino feliz, no paraíso. Quando eles se tornassem devas, haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?"

"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu. "O generoso, tendo se tornado um deva, superaria o outro em cinco aspectos: no tempo de vida celestial, na beleza celestial, na felicidade celestial, na glória celestial e na autoridade celestial. O generoso, tendo se tornado um deva, superaria o outro nesses cinco aspectos."

"Mas, venerável senhor, se os dois falecessem do paraíso e novamente se tornassem seres humanos, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?"

"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu. "Quando eles novamente se tornassem seres humanos, o generoso superaria o outro em cinco aspectos: no tempo de vida humano, na beleza humana, na felicidade humana, na glória humana e na autoridade humana. Quando eles novamente se tornassem seres humanos, o generoso superaria o outro nesses cinco aspectos."

"Mas, venerável senhor, se os dois abandonassem a vida em família e seguissem a vida santa, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?"

"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu. "O generoso tendo seguido a vida santa superaria o outro em cinco aspectos: (1) Em geral ele usaria mantos que tivessem sido especificamente oferecidos para ele, raramente ele usaria mantos que não tivessem sido especificamente oferecidos para ele. (2) Em geral ele comeria comida esmolada que tivesse sido especificamente oferecida para ele, raramente ele comeria comida esmolada que não tivesse sido especificamente oferecida para ele. (3) Em geral ele usaria moradia que tivesse sido especificamente oferecida para ele, raramente ele usaria moradia que não tivesse sido especificamente oferecida para ele. (4) Em geral ele usaria medicamentos que tivessem sido especificamente oferecidos para ele, raramente ele usaria medicamentos que não tivessem sido especificamente oferecidos para ele. (5) Os seus companheiros monásticos, aqueles com quem ele convive, em geral se comportariam de modo agradável através do corpo, linguagem e mente, raramente de modo desagradável. O generoso tendo seguido a vida santa superaria o outro nesses cinco aspectos."

"Mas, venerável senhor, se os dois realizassem o estado de arahant, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?"

"Nesse caso, Sumana, eu declaro que não haveria diferença entre a libertação de um e a libertação do outro."

"É maravilhoso e admirável, venerável senhor! Deveras, todos têm bons motivos para prover alimentos e realizar ações meritórias, visto que isso será benéfico se alguém se tornar um deva, um ser humano, ou seguir a vida santa."

"Assim é, Sumana! Assim é, Sumana! Deveras, todos têm bons motivos para prover alimentos e realizar ações meritórias, visto que isso será benéfico se alguém se tornar um deva, um ser humano, ou seguir a vida santa."

Isso foi o que o Abençoado disse. Tendo dito isso, o Iluminado, o Mestre, disse ainda mais:

"Tal como a lua imaculada
movendo-se através do espaço
supera com o seu brilho
todas as estrelas no mundo,
assim também quem é consumado no comportamento virtuoso,
uma pessoa dotada de convicção,
supera com a generosidade
todos os avaros no mundo.

"Tal como uma imensa nuvem de chuva,
trovejando, coroada por raios,
derrama a chuva sobre a terra,
inundando as planícies e as baixadas,
assim também o discípulo do Iluminado,
sábio com a visão consumada,
supera o avaro
em cinco aspectos:
tempo de vida e glória,
beleza e felicidade.
Possuindo riqueza, após a morte
ele se delicia no paraíso."

[AN V.31]

 


 

Ações generosas que praticamos podem ajudar nossos parentes que possam ter renascido em planos existenciais inferiores:

 

Então o brâmane Janussoni foi até o Abençoado e ambos se cumprimentaram. Quando a conversa amigável e cortês havia terminado, ele sentou a um lado e disse:

"Mestre Gotama, nós brâmanes damos oferendas e realizamos cerimônias para os mortos com o pensamento: 'Que as nossas oferendas beneficiem nossos parentes e familiares que partiram. Que nossos parentes e familiares que partiram recebam a nossa oferenda.' A nossa oferenda, Mestre Gotama, pode na verdade beneficiar os nossos parentes e familiares que partiram? Os nossos parentes e familiares que partiram podem na verdade receber a nossa oferenda?"

"Na ocasião certa, brâmane, poderá beneficiar, não na ocasião errada."

"Mas, Mestre Gotama, qual é a ocasião certa e qual é a ocasião errada?"

"Aqui, brâmane, alguém mata seres vivos, toma aquilo que não é dado, tem conduta sexual imprópria, emprega a linguagem mentirosa, a linguagem maliciosa, a linguagem grosseira, a linguagem frívola, é cobiçoso, tem má vontade, e tem entendimento incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no inferno. Ele se sustenta e subsiste da comida dos seres no inferno. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra.

"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no mundo animal. Ele se sustenta e subsiste da comida dos animais. Essa também é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra.

"Alguém se abstém de matar seres vivos, de tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da linguagem frívola, não é cobiçoso, tem boa vontade, e tem entendimento correto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. Ele se sustenta e subsiste da comida dos seres humanos. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra.

"Alguém se abstém de matar seres vivos ... tem entendimento correto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os devas. Ele se sustenta e subsiste da comida dos devas. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra.

"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no mundo dos fantasmas famintos. Ele se sustenta e subsiste da comida dos fantasmas famintos, ou então ele se sustenta com aquilo que os seus amigos, companheiros, parentes ou familiares neste mundo lhe oferecem. Essa é uma ocasião certa, quando a oferenda irá beneficiar aquele que ali se encontra."

"Mas, Mestre Gotama, quem se beneficia da oferenda se o parente ou familiar do falecido não renasceram nesse mundo?"

"Outros parentes ou familiares falecidos que renasceram nesse mundo se beneficiam da oferenda."

"Mas, Mestre Gotama, quem se beneficia da oferenda se nem os parentes ou familiares do falecido tampouco outros tenham renascido nesse mundo?"

"Brâmane, durante este longo período de tempo [no samsara] é impossível e inconcebível que aquele mundo esteja desprovido de parentes ou familiares falecidos. Além disso, o doador também não fica desprovido de frutos."

"O Mestre Gotama postula [o valor da generosidade] mesmo na ocasião errada?"

"Brâmane, eu postulo [o valor da generosidade] mesmo na ocasião errada.

"Aqui, Brâmane, alguém mata seres vivos, toma aquilo que não é dado, tem conduta sexual imprópria, emprega a linguagem mentirosa, a linguagem maliciosa, a linguagem grosseira, a linguagem frívola, é cobiçoso, tem má vontade, e tem entendimento incorreto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; roupas, um veículo; ornamentos, perfume e ungüento; roupas de cama, moradia, e uma lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os elefantes. Ali ele obtém comida e bebida, e vários ornamentos.

"Visto que aqui ele matou seres vivos ... teve entendimento incorreto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os elefantes. Mas visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém comida e bebida, e vários ornamentos.

"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento incorreto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os cavalos ... bois ... cachorros. Ali ele obtém comida e bebida, e vários ornamentos.

"Visto que aqui ele matou seres vivos ... teve entendimento incorreto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os cavalos ... bois ... cachorros. Mas visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém comida e bebida, e vários ornamentos.

"Alguém se abstém de matar seres vivos, de tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da linguagem frívola, não é cobiçoso, tem boa vontade, e tem entendimento correto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; roupas, um veículo; ornamentos, perfume e ungüento; roupas de cama, moradia, e uma lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. Ali ele obtém os cinco elementos do prazer sensual humano.

"Visto que aqui ele se absteve de matar seres vivos ... teve entendimento correto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. E visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém os cinco elementos do prazer sensual humano.

"Alguém se abstém de matar seres vivos, ... tem entendimento correto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; ... lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os devas. Ali ele obtém os cinco elementos do prazer celestial.

"Visto que aqui ele se absteve de matar seres vivos ... teve entendimento correto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os devas. E visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém os cinco elementos do prazer celestial. [Foi por isso que eu disse:] 'Além disso, o doador também não fica desprovido de frutos'."

"É admirável e maravilhoso, Mestre Gotama, que há razão em dar oferendas e realizar cerimônias em memória dos mortos, visto que o doador também não fica desprovido de frutos."

"Assim é, brâmane! Assim é, brâmane! O doador também não fica desprovido de frutos."

Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado em pé o que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Eu busco refúgio no Mestre Gotama, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre Gotama me aceite como discípulo leigo que nele buscou refúgio para o resto da minha vida."

[AN X.177]

 


 

Os seis fatores com os quais a generosidade se torna uma fonte incalculável de mérito:

 

Em certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Agora naquela ocasião a discípula leiga Velukantaki Nandamata estava preparando uma oferenda com seis fatores para a Sangha dos bhikkhus liderada por Sariputta e Moggallana. Com o olho divino que é purificado e sobrepuja o humano, o Abençoado viu a discípula leiga Velukantaki Nandamata preparando a oferenda e ele então se dirigiu aos bhikkhus:

"Bhikkhus, a discípula leiga Velukantaki Nandamata está preparando uma oferenda com seis fatores para a Sangha dos bhikkhus liderada por Sariputta e Moggallana. E como uma oferenda possui seis fatores? Aqui, o doador possui três fatores e os recipientes possuem três fatores.

"Quais são os três fatores do doador? (1) O doador sente alegria antes de dar; (2) ele tem uma mente tranquila ao dar; e (3) a sua mente se delicia depois de dar. Esses são os três fatores do doador.

"Quais são os três fatores dos recipientes? Aqui, (4) os recipientes estão desprovidos de cobiça ou praticam para a remoção da cobiça; (5) eles estão desprovidos de raiva ou praticam para a remoção da raiva; (6) eles estão desprovidos de delusão ou praticam para a remoção da delusão. Esses são os três fatores dos recipientes.

"Assim o doador possui três fatores e os recipientes possuem três fatores. Desse modo a oferenda possui seis fatores. Não é fácil calcular o mérito de uma oferenda dessas assim: 'Tanto assim é essa fonte de méritos, fonte daquilo que é benéfico, alimento da felicidade, celestial, que resulta na felicidade, conduz ao paraíso, conduz ao que é desejável, prazeroso e almejado, para o bem-estar e a felicidade'; ao invés disso é considerado simplesmente como uma grande massa de mérito incalculável, imensurável. Bhikkhus, tal como não é fácil medir a água no grande oceano assim: 'Há tantos litros de água,' ou 'Há tantas centenas de litros de água,' ou 'Há tantos milhares de litros de água,' mas ao invés disso é considerado simplesmente como uma grande massa de água incalculável, imensurável; assim também, não é fácil calcular o mérito de uma oferenda dessas ... ao invés disso é considerado simplesmente como uma grande massa de mérito incalculável, imensurável."

Antes de dar há alegria;
enquanto dá a mente está tranquila;
depois de dar a mente se delicia:
esse é o êxito na generosidade.

Desprovidos da cobiça e da raiva,
desprovidos da delusão, sem impurezas,
com auto-controle, vivendo a vida santa,
o campo de méritos está completo.

Tendo se purificado
e dado com as próprias mãos,
a generosidade produz muitos frutos
para si mesmo e em relação aos outros.

Tendo sido generoso
com a mente livre da avareza,
a pessoa sábia, rica em fé,
renasce num destino feliz, num mundo sem aflições.

[AN VI.37]

 


 

Escala de ações meritórias:

 

Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatti, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então o chefe de família Anathapindika foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo, sentou-se a um lado, e o Abençoado então disse: “Chefe de família, oferendas ainda são dadas por sua família?”

“Oferendas ainda são dadas por minha família, venerável senhor, mas são inferiores: arroz quebrado cozido com farelo, acompanhado de picles em salmoura.”

“Chefe de família, não importa se a oferenda é inferior ou superior, se é dada de forma descuidada, não é dada com próprias mãos, dada sem demonstrar respeito, dado aquilo que seria jogado fora, dada com a idéia de que nenhum fruto provém dessa ação: seja lá aonde os resultados desta oferenda produza os seus frutos, a mente da pessoa não irá se inclinar para o desfrute de comida esplendida, não irá se inclinar para o desfrute de roupas esplendidas, não irá se inclinar para o desfrute de veículos esplendidos, não irá se inclinar para o desfrute dos esplendidos cinco elementos do prazer de sensual. E seus filhos e filhas, escravos, servos e trabalhadores não lhe darão ouvidos, não o escutarão, não farão com que suas mentes se inclinem para o bem de aprender. E porque é assim? Porque esse é o resultado da desatenção.

“Chefe de família, não importa se a oferenda é inferior ou superior, se é dada de forma cuidadosa, dada com próprias mãos, dada demonstrando respeito, dado aquilo que não seria jogado fora, dada com a idéia de que algum fruto provém dessa ação: seja lá aonde os resultados desta oferenda produzam os seus frutos, a mente da pessoa irá se inclinar para o desfrute de comida esplendida, irá se inclinar para o desfrute de roupas esplendidas, irá se inclinar para o desfrute de veículos esplendidos, irá se inclinar para o desfrute dos esplendidos cinco elementos do prazer de sensual. E seus filhos e filhas, escravos, servos e trabalhadores lhe darão ouvidos, o escutarão, farão com que suas mentes se inclinem para o bem de aprender. E porque é assim? Porque esse é o resultado da atenção.

“Certa vez, chefe de família, havia um brâmane chamado Velama. E esta foi a natureza da oferenda, da grande oferenda, que ele deu: Ele deu 84,000 bandejas de ouro cheias de prata, 84,000 bandejas de prata cheias de ouro, 84,000 bandejas de bronze cheias de pedras preciosas. Ele deu 84,000 elefantes com ornamentos de ouro, estandartes de ouro, cobertos com redes de fio de ouro. Ele deu 84,000 carruagens repletas de peles de leão, peles de tigre, peles de leopardos, cobertores com cor de açafrão, com ornamentos de ouro, estandartes de ouro, cobertos com redes de fios de ouro. Ele deu 84,000 vacas leiteiras com amarras de fina juta e baldes de bronze. Ele deu 84,000 donzelas adornadas com brincos de joias. Ele deu 84,000 sofás repletos de cobertores de longo velo, cobertores bordados, tapetes de pele de veados kadalis, cada um com um dossel em cima e almofadas vermelhas de ambos lados. Ele deu 84,000 comprimentos de pano – do linho mais fino, do algodão mais fino, da seda mais fina. Isso, claro, para não dizer nada da comida e bebida, loções e camas: Elas fluíam, por assim dizer, como rios.

“Agora, chefe de família, se o pensamento lhe ocorrer ‘Talvez fosse outra pessoa que naquele tempo era o brâmane Velama, que deu aquela oferenda, aquela grande oferenda,’ esta não é forma como deve ser visto. Eu era o brâmane Velama naquela ocasião. Eu dei aquela oferenda, aquela grande oferenda. Mas naquela ocasião não havia ninguém digno de oferendas; ninguém purificou aquela oferenda.

“Se alguém alimentasse uma pessoa consumada em visão [i.e, um sotapanna], isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, dada pelo brâmane Velama.

“Se alguém alimentasse um sakadagami, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, dada pelo brâmane Velama, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem pessoas consumadas em visão, maior ainda seria o fruto se alguém alimentasse um único sakadagami.”

“Se alguém alimentasse um anagami, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, dada pelo brâmane Velama, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem sakadagamis, maior ainda seria o fruto se alguém alimentasse um único anagami.”

“Se alguém alimentasse um arahant, isso seria mais frutífero do que, ... se alguém alimentasse cem anagamis ...”

“Se alguém alimentasse um Paccekabuddha, isso seria mais frutífero do que, ... se alguém alimentasse cem arahants ...”

“Se alguém alimentasse um Tathagata, um arahant perfeitamente iluminado ... isso seria mais frutífero do que, .. se alguém alimentasse cem Paccekabuddhas ...”

“Se alguém alimentasse uma comunidade de bhikkhus liderada pelo Buda, isso seria mais frutífero do que, ... se alguém alimentasse um Tathagata, um arahant perfeitamente iluminado.”

“Se alguém construísse um prédio e o dedicasse à Sangha das quatro direções, isso seria mais frutífero do que, ... se alguém alimentasse uma comunidade de bhikkhus liderada pelo Buda.”

“Se com uma mente clara com serena confiança alguém buscasse refúgio no Buda, Dhamma e Sangha, isso seria mais frutífero do que, ... se alguém construísse um prédio e o dedicasse à Sangha das quatro direções.”

“Se com uma mente clara com serena confiança alguém se empenhasse em seguir as regras de treinamento – abster-se de matar seres vivos, abster-se de tomar aquilo que não tenha sidodado, abster-se do comportamento sexual impróprio, abster-se da linguagem mentirosa, abster-se de do vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência – isso seria mais frutífero do que, ... se alguém com uma mente clara com serena confiança buscasse refúgio no Buda, Dhamma e Sangha.”

“Se alguém desenvolvesse amor-bondade no coração apenas pelo tempo que leva para puxar o ubre de uma vaca, isso seria mais frutífero do que, ... se alguém com uma mente clara com serena confiança se empenhasse em seguir as regras do treinamento ...”

“Se alguém desenvolvesse a percepção da impermanência apenas pelo tempo que leva para estalar os dedos, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que o brâmane Velama deu, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem pessoas consumadas em visão, cem sakadagamis, cem anagamis, cem arahants, cem Paccekabuddhas, um Tathagatha – um arahant perfeitamente iluminado – e alimentasse uma comunidade de bhikkhus liderada pelo Buda, e tivesse um prédio construído e dedicado à Sangha das quatro direções, e com uma mente clara com serena confiança buscasse refúgio no Buda, Dhamma e Sangha, e com uma mente clara com serena confiança se empenhasse em seguir as regras de treinamento, e desenvolvesse amor-bondade no coração apenas pelo tempo que leva para puxar o ubre de uma vaca, maior ainda seria o fruto se alguém desenvolvesse a percepção da impermanência pelo tempo que leva para estalar os dedos.”

[AN IX.20]

 


 

Doações e presentes de coisas materiais são bons, mas o presente do Dhamma excede todas as outras:

 

[Uma devata:]

Um doador de que, é um doador de força?
Um doador de que, é um doador de beleza?
Um doador de que, é um doador de alívio?
Um doador de que, é um doador de visão?
E quem é um doador de tudo?

[O Buda:]

Um doador de comida, é um doador de força.
Um doador de roupas, é um doador de beleza.
Um doador de veículos, é um doador de alívio.
Um doador de lâmpadas, é um doador de visão.
Aquele que doa uma moradia é o que doa tudo.
Mas aquele que ensina o Dhamma
é um doador do Imortal.

[SN I.42]

* * *

Isto foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: "Bhikkhus, há dois tipos de generosidade. Quais dois? A generosidade com bens materiais e a generosidade com o Dhamma. Esses são os dois tipos de generosidade. Desses dois tipos, a generosidade com o Dhamma é superior."

"Bhikkhus, há dois modos de compartir. Quais dois? Compartir bens materiais e compartir o Dhamma. Esses são os dois modos de compartir. Desses dois modos, compartir o Dhamma é superior."

"Bhikkhus, há dois tipos de assistência. Quais dois? Assistência com bens materiais e assistência com o Dhamma. Esses são os tipos de assistência. Desses dois tipos, a assistência com o Dhamma é superior."

Quando se diz que a generosidade
é suprema e insuperável,
e tendo o próprio Abençoado exaltado a generosidade:
quem, com conhecimento e sabedoria,
confiante nesse supremo campo de mérito,
não daria no momento apropriado?

Ambos, para aqueles que proclamam
e para aqueles que ouvem
com convicção a mensagem do Iluminado:
purificam o benefício supremo -
aqueles que atendem
à mensagem do Abençoado.

[It 98]

 


 

Nota: Veja também Generosidade: Praticando o Dhamma no dia a dia.

 

 

Revisado: 17 Maio 2014

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