O Significado de Sangha

Por

Ajaan Brahmavamso

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Como os jovens adolescentes que adoram fazer as coisas de forma diferente dos seus pais, os novos Budistas em países não-asiáticos parecem estar passando por sua própria orgulhosa adolescência ao desafiar os limites do Budismo tradicional. Felizmente, para ambos, os jovens e os Budistas ocidentais, a arrogância da juventude logo dá lugar ao amadurecimento, com muitos anos de compreensão e respeito pela tradição. É com o fim de acelerar esse amadurecimento do Budismo que escrevo este artigo sobre o significado de "Sangha", tal como o Buda intencionou que deveria ser entendido.

No Tipitika, os registros dos Ensinamentos do Buda, encontram-se dois principais focos para o significado de Sangha: o terceiro elemento do Refúgio Tríplice (no Buda, no Dhamma e na Sangha ), e o terceiro fator da reverenciada Jóia Tríplice (o Buda, o Dhamma e a Savaka Sangha). No Tipitaka, em situações pouco comuns, "Sangha" é utilizado para designar um "rebanho" de animais (Patika Sutta) ou um "bando" de aves (Jataka Nidana), mas grupos de discípulos leigos, homens e mulheres, são sempre designados como "parisa", uma assembléia.

Então, qual é o significado de Sangha no primeiro contexto principal, no Refúgio Tríplice? Certamente, apenas um Budista extremamente excêntrico tomaria como seu terceiro refúgio uma sangha de aves. Na verdade, o Tipitika é preciso no que se entende como o terceiro refúgio. No Cânone, em todas as ocasiões nas quais uma pessoa inspirada tomou o Refúgio Tríplice como uma expressão de sua fé, foi no Buda, no Dhamma e na Sangha dos Bhikkhus, ou no Buda, no Dhamma e na Sangha das Bhikkhunis. Portanto, no Budismo original, o significado de Sangha, no contexto do Refúgio Tríplice é sem dúvida a Sangha monástica.

A Sangha como o terceiro fator da Jóia Tríplice reverenciada pelos Budistas parece ter um significado diferente. É a chamada Savaka Sangha (ou Ariya Sangha) sendo definida como aqueles que realizaram algum dos oito estágios do Despertar (as 4 etapas usuais divididas em Caminho e Fruto) que é "merecedora de dádivas, merecedora de hospitalidade, merecedora de oferendas, merecedora de saudações com reverência, um campo inigualável de mérito para o mundo". Assim, nos textos originais, quem são o "campo inigualável de mérito e digno de oferendas e saudações"?

No Dakkhinavibhanga Sutta o Buda diz que "uma oferenda feita para a Sangha é incalculável, imensurável. E digo que de nenhuma forma uma oferenda feita para alguém individualmente poderá trazer maior recompensa do que uma oferenda feita para a Sangha." A coerência mostra que a Savaka Sangha, o campo inigualável de mérito no mundo, deve ser uma parte, um subconjunto da Sangha monástica - não há melhores frutos do que uma oferenda para a Sangha monástica.

Além disso, no âmbito do Tipitika, oferendas e saudações com reverência seriam sempre dadas pelos leigos aos monásticos e nunca o contrário. Mesmo o altamente realizado discípulo Ugga Gahapati que era um anagami (aquele que não retorna), é visto oferecendo saudações com reverência para bhikkhus comuns e atendendo as suas necessidades com as suas próprias mãos (Ugga (dutiya) Sutta). Portanto, aqueles "merecedores de dádivas, merecedores de hospitalidade, merecedores de oferendas, merecedores de saudações com reverência", a Savaka Sangha, novamente são mostrados como parte da Sangha monástica de ambos os sexos.

Isso prova que o significado de "Sangha", no contexto da reverenciada Jóia Tríplice é parte da Sangha monástica, sendo aqueles que atingiram algum dos estágios da Iluminação. Essa Savaka Sangha, ou Ariya Sangha, de modo algum está fora da Sangha monástica, mas dentro dela, como um subconjunto. Dizer o contrário seria incompatível com os Suttas.

Argumentei esses pontos com cuidado porque na atualidade, muitos grupos leigos Budistas no Ocidente se auto denominam Sangha, buscando refúgio neles mesmos, até mesmo reverenciando a si mesmos, e presumindo que isso é Budismo! Isso é triste, enganoso, e não produz nenhum progresso no Caminho.

É muito melhor tomar o refúgio e oferecer reverências para a Sangha monástica, especialmente para aqueles dentro da Sangha monástica com alguma realização no Caminho. Por que? Porque a Sangha monástica é também a expressão física do Caminho do Meio do Buda, é a única organização Budista de ensino com autoridade e, em terceiro lugar, é a bandeira do Budismo capaz de oferecer inspiração nas vilas e cidades do nosso mundo.

Que a Sangha monástica é a expressão física do Caminho do Meio do Buda é facilmente demonstrado investigando nos Suttas o que o Buda quis dizer com o 'Caminho do Meio'. No Aranavibhanga Sutta o Buda explicou claramente que o caminho do meio é o caminho do celibato, "além da busca dos prazeres dos cinco sentidos". Monasticismo é a expressão física do celibato. Todo Budista deve saber que a sensualidade é o primeiro dos três desejos (kama-tanha) mencionados na Segunda Nobre Verdade como a causa direta de dukkha. Além disso, essa sensualidade é o primeiro dos apegos (kama-upadana). Portanto, aqueles que levam a sério o abandono do desejo e o desenraizamento do apego naturalmente gravitam para a Sangha monástica. Assim, os monges e monjas incluem todos aqueles que estão suficiente comprometidos com a busca pela Iluminação para abrir mão em sério dos seus desejos e apegos.

Que a autoridade no Budismo se encontra com a Sangha monástica é demonstrado quando se considera que apenas alguém que esteja praticando o Dhamma, e desenraizando a sensualidade, tem a autoridade para ensinar os outros a fazer o mesmo. Um Budista leigo com uma vida sexual ativa, que gosta de boa comida e entretenimento, acumulando posses, e que ensina os outros a abrir mão dos apegos, deve ser chamado de hipócrita, aqueles que não praticam o que pregam aos outros. Eles não têm autoridade. É verdade que alguns monges também se qualificam como hipócritas, mas eles se revelam o que são mais facilmente do que o professor leigo com muito menos regras. Em suma, um monge é mais confiável.

A Sangha monástica sendo a bandeira do Budismo se refere à aparência e estilo de vida do monge ou monja Budista. O simples manto ocre e a cabeça raspada são símbolos de renúncia e a rejeição da moda. Eles são uma bandeira para as pessoas que o caminho para a felicidade não é através do acúmulo de riqueza e a ostentação para os outros. O estilo de vida de moralidade e contenção visto no comportamento de um bom monge ou monja são um sinal para os outros que a liberdade está dentro dos preceitos, não além deles. E a tranqüilidade e a felicidade de um monge bem treinado indica o objetivo do Nobre Caminho Óctuplo, que é o fim do sofrimento. Bons monges e monjas, como dignos filhos e filhas do Buda, se destacam como nenhum leigo poderia, inspirando até mesmo os não Budistas. Como um patriota sente-se inspirado e enlevado quando vê a bandeira do seu país, assim também um verdadeiro Budista sente as mesmas emoções ao ver a bandeira da Sangha em um diligente monge ou monja.

Portanto, esse é o sentido da palavra "Sangha", ambos no contexto do Tipitika e no contexto dos tempos modernos. Que os monges e monjas, que são seus membros, por favor, vivam de acordo com todos esses significados. E que os Budistas leigos entendam melhor esses significados e assim preservem e apóiem a linhagem do Grande Mestre, que é a Sangha monástica.

 

 

Revisado: 8 Fevereiro 2014

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