A Tradição das Florestas da Tailândia

 

Breve Histórico da Tradição das Florestas da Tailândia

Phra Ajaan Sao Kantasilo (1861-1941) e Phra Ajaan Mun Bhuridatto (1870-1949) são considerados como os originadores da tradição de monges dhutanga, os meditadores das florestas na região nordeste da Tailândia. Essa crença tem como base a premissa de que as tradições das florestas anteriores haviam desaparecido e que Ajaan Sao e Ajaan Mun foram os responsáveis pela sua restauração. Historicamente essa interpretação não é acurada visto que a prática dhutanga era na época seguida por muitas das tradições regionais do antigo Sião, (moderna Tailândia).

No antigo Sião existia uma grande variedade de tradições regionais nas quais as regras do Vinaya eram flexibilizadas de acordo com os costumes locais, e nessas tradições havia monges que se dedicavam à prática da meditação. Em 1828, o príncipe Tailandês Mongkut (que se tornaria o rei Rama IV), estabeleceu a tradição Dhammayut que defendia o estrito rigor na adoção das regras do Vinaya e uma ênfase nos estudos dos ensinamentos dos Suttas, Abhidhamma e Comentários, porém com uma abordagem mais crítica e racionalista. Nessa tradição, a prática da meditação era considerada inferior ao estudo dos ensinamentos. Com o surgimento da tradição Dhammayut, todas as demais tradições regionais foram categorizadas como um grupo, que foi denominado Mahanikaya.

Antes da centralização da Sangha, através da lei da Sangha promulgada pelo Rei Rama V em 1902, havia abades de monastérios Dhammayut em Ubon, região nordeste do Sião, que eram meditadores e que seguiam estritamente as regras do Vinaya. Eles também proibiam os monges de participar de festas populares e de projetos de construção, práticas muito comuns nas demais tradições regionais. Ajaan Sao havia sido ordenado na tradição Lao e era o abade de um monastério em Ubon. Ele ficou impressionado com a disciplina desses monges Dhammayut e juntamente como o seu discípulo Ajaan Mun, decidiram se converter para a tradição Dhammayut. Uma vez ordenados, eles ficaram livres das tarefas típicas dos monges das tradições regionais e passaram a se concentrar completamente na prática dhutanga de meditação. Assim foi como, no final do século 19, Ajaan Sao deu origem à tradição das florestas dhutanga na tradição Dhammayut.

A principal diferença entre a prática dhutanga Dhammayut e a das demais tradições regionais dizia respeito às regras do Vinaya. Enquanto os monges Dhammayut obedeciam as 227 regras prescritas pelo Patimokkha, os monges das tradições regionais seguiam regras de disciplina distintas que, por exemplo, permitiam o armazenamento de alimentos nas cavernas que eles habitavam, a colheita de frutas e vegetais e o preparo de medicamentos à base de ervas. Como resultado, muitos dos monges das tradições regionais eram vistos pelas autoridades centrais da Sangha, em Bangcoc, como relapsos, e considerados como monges Budistas não autênticos. Muitos dos discípulos de Ajaan Mun iniciaram as suas carreiras monásticas nas tradições regionais e só mais tarde foram re-ordenados na tradição Dhammayut, sendo que outros nunca foram re-ordenados na tradição Dhammayut, permanecendo nas suas tradições regionais.

Ao longo da primeira metade do século 20, as autoridades da Sangha, em Bangcoc, obedecendo os ditames da lei da Sangha promulgada em 1902, consideravam a prática de meditação dos monges dhutanga como inferior aos estudos do Cânone em Pali. E isso acabou gerando muitos conflitos e situações difíceis para os monges dhutanga. Foi só a partir da década de 70 que os monges dhutanga Dhammayut acabaram obtendo mais reconhecimento devido à atenção que receberam da família real, do governo e da mídia na Tailândia. Também nessa época, devido ao intenso desmatamento na região nordeste da Tailândia, os monges dhutanga acabaram se estabelecendo em monastérios, dessa forma dando fim à prática da perambulação pelas florestas.

A tradição das florestas imigrou para o Ocidente principalmente através de discípulos Ocidentais da linhagem de Ajaan Chah que instalaram vários monastérios na Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Suiça, Itália, Austrália e Nova Zelândia.

Fonte: Forest Recollections – Wandering Monks in Twentieth-Century Thailand,
por Kamala Tiyavanich.

 


 

Alguns Mestres da Tradição das Florestas da Tailândia

 

Alguns Mestres Ocidentais da Tradição das Florestas da Tailândia

 


 

Phra Ajaan Phra Ajaan Mun Bhuridatto (1870-1949)

Phra Ajaan Mun Bhuridatto Thera nasceu em 1870 em Baan Kham Bong, um vilarejo agrícola na província de Ubon Ratchathani, no nordeste da Tailândia. Ordenado como monge Budista em 1893, ele passou o resto de sua vida perambulando pela Tailândia, Birmânia e Laos, vivendo na maior parte do tempo na floresta, dedicado à prática de meditação. Ele atraiu um grande número de discípulos e, juntamente com seu mestre, Phra Ajaan Sao Kantasilo, foi responsável pelo estabelecimento da tradição asceta das florestas que agora se espalhou pela Tailândia e muitos outros países. Seu passamento ocorreu em 1949, no Wat Suddhavasa, província de Sakon Nakhorn.

Muito foi escrito sobre a sua vida, mas muito pouco se registrou dos seus ensinamentos durante o período em que ele esteve vivo. Ele deixou a maior parte dos seus ensinamentos na forma de pessoas: os discípulos cujas vidas foram profundamente influenciadas pela experiência de viver e praticar meditação sob sua orientação.

 

Um Coração Liberto (Muttodaya) é o registro de trechos de discursos, feitos durante os anos de 1944-1945.

 


 

Phra Ajaan Chah (1918-1992)

Ajaan Chah nasceu em 1918 num vilarejo na zona rural da província de Ubon Rachathani, na região nordeste da Tailândia. Ele tinha 5 irmãos e 4 irmãs e de acordo com os padrões da época, a sua família era próspera. Seguindo os costumes da época, aos 13 anos de idade ele se ordenou por 3 anos como noviço no monastério do seu vilarejo, durante esse período ele aprendeu a ler e a escrever, além dos ensinamentos básicos sobre o Budismo. Depois desse período ele regressou à vida leiga para ajudar a sua família. Ele, no entanto, preferia a vida monástica e com 20 anos de idade foi ordenado como bhikkhu. Nos seus primeiros anos de vida como bhikkhu, ele aprendeu a recitar o Patimokkha e estudou os textos em Pali, tendo sido aprovado no nível mais alto dos exames de um bhikkhu. Mas o falecimento do seu pai fez como que ele despertasse para a transitoriedade da vida e fez com que ele refletisse de modo profundo sobre o propósito da vida, pois embora ele tivesse estudado muito e conhecesse o Pali, ele não sentia estar mais próximo de compreender o fim do sofrimento. Desencantado com os estudos e tendo o desejo de buscar a verdadeira essência dos ensinamentos do Buda, em 1946 ele adotou a vida de um bhikkhu perambulante. Ele caminhou cerca de 400 km na direção da região central da Tailândia dormindo nas florestas e esmolando comida nos vilarejos. Num monastério ele ouviu falar sobre o Venerável Ajaan Mun e depois de buscá-lo durante algum tempo ele acabou passando um periodo curto porém fértil com Ajaan Mun. Ajaan Mun exerceu uma influência indelével sobre Ajaan Chah, proporcionando direção e claridade que faltavam à sua meditação. Outros dois mestres mencionados por Ajaan Chah de modo reverencioso eram Ajaan Kinnaree e Ajaan Tongrat.

Durante os 7 anos seguintes Ajaan Chah se dedicou ao estilo austero da tradição das florestas da Tailândia, vivendo nas florestas infestadas de animais selvagens, em cavernas e cemitérios, locais ideais para a prática da meditação. Depois desses muitos anos perambulando, em 1954, ele foi convidado, junto com um punhado de discípulos, a se estabelecer numa densa floresta próximo ao vilarejo onde ele havia nascido. O seu estilo simples e direto, com ênfase na aplicação prática dos ensinamentos e uma atitude balanceada, começaram a atrair cada vez mais um grande número de bhikkhus e leigos acabando por formar um grande monastério, Wat Nong Pah Pong, no local onde Ajaan Chah havia se estabelecido. A essência do seu ensinamento era particularmente simples: esteja plenamente atento, não se apegue a nada, solte-se de tudo e submeta-se às coisas da maneira como elas são.

O estilo de ensino simples, no entanto profundo, de Ajaan Chah tinha um apelo especial para os Ocidentais. Em 1966, o primeiro Ocidental veio para ficar no Wat Pah Pong, o Venerável Sumedho Bhikkhu. Daquele momento em diante, o número de estrangeiros que buscaram Ajaan Chah foi crescendo continuamente, até que em 1975, foi estabelecido Wat Pah Nanachat, um monastério especial para treinar o crescente número de Ocidentais, tendo o Venerável Ajaan Sumedho como abade.

Em 1979, o primeiro de muitos monastérios na Europa, Chithurst Buddhist Monastery, foi estabelecido em Sussex, na Inglaterra, pelos seus discípulos Ocidentais mais graduados (entre eles Ajaan Sumedho). Na atualidade, fora da Tailândia, existem 15 monastérios com mais de 60 monges espalhados pelos Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália e Nova Zelândia. Veja Forest Sangha.

Em 1980 Ajaan Chah começou a sentir de maneira mais aguda os sintomas de vertigem e lapsos de memória que ele vinha sentindo ao longo de alguns anos. Isso acarretou uma cirurgia em 1981 que, no entanto, fracassou no seu objetivo de reverter o processo de paralisia, que, afinal, fez com que ele ficasse confinado à cama e impossibilitado de falar. No entanto, isso não inibiu o crescimento do número de monges e pessoas leigas que vinham para praticar no seu monastério, para eles os ensinamentos de Ajaan Chah serviam como guia e inspiração permanentes. Ajaan Chah faleceu em Janeiro de 1992.

 

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Uma palestra comovente proferida para uma discípula leiga próxima da morte.

 

Sila, samadhi e pañña devem ser desenvolvidos em conjunto.

 

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Revisado: 20 Dezembro 2018

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