Majjhima Nikaya 38

Mahatanhasankhaya Sutta

O Grande Discurso sobre a Destruição do Desejo

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(Ambiente)

1. Assim ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika.

2. Agora, naquela ocasião uma idéia perniciosa havia surgido na mente de um bhikkhu chamado Sati, filho de um pescador: “Da forma como eu entendo, o Dhamma ensinado pelo Abençoado é a mesma consciência que se move e perambula pelo ciclo de renascimentos e não uma outra.” [1]

3. Muitos bhikkhus, tendo ouvido isso, foram até o bhikkhu Sati e perguntaram: “Amigo Sati, é verdade que essa idéia perniciosa surgiu na sua mente?

“Exatamente, amigos. Da forma como eu entendo, o Dhamma ensinado pelo Abençoado é a mesma consciência que se move e perambula pelo ciclo de renascimentos e não uma outra.”

Então aqueles bhikkhus, desejando que ele deixasse de lado aquela idéia perniciosa, o pressionaram, questionaram e examinaram desta forma: “Amigo Sati, não diga isto. Não deturpe o Abençoado; não é bom deturpar o Abençoado. O Abençoado não falaria dessa forma. Pois, em muitos discursos o Abençoado declarou que a consciência possui origem dependente, já que sem uma condição não existe a origem da consciência.”

Apesar disso, mesmo tendo sido pressionado, questionado e examinado por eles desta forma, o bhikkhu Sati, filho de um pescador, ainda assim, obstinadamente manteve a sua idéia perniciosa e continuou insistindo nela.

4. Visto que os bhikkhus foram incapazes de fazer com que ele se separasse dessa idéia perniciosa, eles se dirigiram até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e relataram o que havia ocorrido, adicionando: Venerável senhor, visto que fomos incapazes de fazer com que o bhikkhu Sati, filho de um pescador, se separasse dessa idéia perniciosa, nós estamos reportando este assunto ao Abençoado.”

5. Então, o Abençoado se dirigiu a um certo bhikkhu desta forma: “Venha, bhikkhu, diga em meu nome, ao bhikkhu Sati, filho de um pescador, que o Mestre o chama.” “Sim, venerável senhor,” ele respondeu e foi até o bhikkhu Sati e lhe disse: “O Mestre o chama, amigo Sati.”

“Sim, Amigo”, ele respondeu, e foi até o Abençoado, após cumprimentá-lo, sentou a um lado. O Abençoado então lhe perguntou: “Sati, é verdade que a seguinte idéia perniciosa surgiu em você: ‘Da forma como eu entendo, o Dhamma ensinado pelo Abençoado é a mesma consciência que se move e perambula pelo ciclo de renascimentos e não uma outra’?”

“Exatamente isso, venerável senhor. Da forma como eu entendo, o Dhamma ensinado pelo Abençoado é a mesma consciência que se move e perambula pelo ciclo de renascimentos e não uma outra.”

“O que é essa consciência, Sati?”

“Venerável senhor, é aquilo que fala e sente e experimenta aqui e ali o resultado de boas e más ações.” [2]

“Homem tolo, para quem você me viu ensinar o Dhamma dessa forma? Homem tolo, eu não declarei em muitos discursos que a consciência possui origem dependente, já que sem uma condição não existe a origem da consciência? Mas você, homem tolo, nos deturpou com o seu entendimento incorreto, causou prejuízo para si mesmo e acumulou muito demérito; pois isto lhe causará dano e sofrimento por um longo tempo.”

6. Então, o Abençoado se dirigiu aos bhikkhus desta forma: “Bhikkhus, o que vocês pensam? Este bhikkhu Sati, filho de um pescador, proporcionou algum lampejo de sabedoria para este Dhamma e Disciplina?

“Como poderia ele, venerável senhor? Não, venerável senhor.”

Quando isto foi dito, o bhikkhu Sati, filho de um pescador, permaneceu sentado em silêncio, consternado, com os ombros caídos e a cabeça baixa, deprimido e sem resposta. Então, vendo isso, o Abençoado lhe disse: “Homem tolo, você será reconhecido por sua própria idéia perniciosa. Eu questionarei os bhikkhus sobre este assunto.”

7. Então, o Abençoado se dirigiu aos bhikkhus desta forma: “Bhikkhus, vocês entendem o Dhamma que eu ensino da mesma forma que este bhikkhu Sati, filho de um pescador, entende quando ele nos deturpa com o seu entendimento incorreto e causa dano para si mesmo e acumula muito demérito?”

“Não, venerável senhor. Pois em muitos discursos o Abençoado declarou que a consciência possui origem dependente, já que sem uma condição não existe a origem da consciência.”

“Muito bem, bhikkhus. É bom que vocês entendam dessa forma o Dhamma que eu ensino. Pois em muitos discursos eu declarei que a consciência possui origem dependente, já que sem uma condição não existe a origem da consciência. Mas este bhikkhu Sati, filho de um pescador, nos deturpa com o seu entendimento incorreto e causa prejuízo para si mesmo e acumula muito demérito; pois isto levará esse homem tolo ao dano e sofrimento por um longo tempo.

(Condicionalidade da Consciência)

8. “Bhikkhus, a consciência é designada pela condição particular de dependência, dependendo do que ela surge. Quando a consciência surge na dependência do olho e das formas, ela é designada a consciência no olho; quando a consciência surge na dependência do ouvido e dos sons, ela é designada a consciência no ouvido; quando a consciência surge na dependência do nariz e dos aromas, ela é designada a consciência no nariz; quando a consciência surge na dependência da língua e dos sabores, ela é designada a consciência na língua; quando a consciência surge na dependência do corpo e dos tangíveis, ela é designada a consciência no corpo; quando a consciência surge na dependência da mente e dos objetos mentais, ela é designada a consciência na mente. Da mesma forma como o fogo é designado pela condição particular de dependência, dependendo do que ele arde – quando o fogo arde na dependência de lenha, ele é designado um fogo de lenha; quando o fogo arde na dependência de gravetos, ele é designado um fogo de gravetos; quando o fogo arde na dependência de capim, ele é designado um fogo de capim; quando um fogo arde na dependência de estrume de vaca ele é designado um fogo de estrume de vaca; quando um fogo arde na dependência de palha, ele é designado como um fogo de palha; quando um fogo arde na dependência de lixo, ele é designado um fogo de lixo – assim também a consciência é designada pela condição particular de dependência, dependendo do que ela surge.[3] Quando a consciência surge na dependência do olho e das formas, ela é designada a consciência no olho ... quando a consciência surge na dependência da mente e dos objetos mentais, ela é designada a consciência na mente.

(Questionário Geral sobre o Ser/Existir)

9. “Bhikkhus, vocês vêm: ‘Isto surgiu’?”[4] – “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, vocês vêm: ‘A sua origem ocorre tendo aquilo como alimento’?” – “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, vocês vêm: ‘Com a cessação daquele alimento, aquilo que surgiu está sujeito a cessar’?” – “Sim, venerável senhor.”

10. “Bhikkhus, a dúvida surge quando existe esta incerteza: ‘Isto surgiu ou não’?” – “Sim, venerável senhor.” - “Bhikkhus, a dúvida surge quando existe esta incerteza: ‘A sua origem ocorre tendo aquilo como alimento, ou não’?” - “Sim, venerável senhor.” - “Bhikkhus, a dúvida surge quando existe esta incerteza: ‘Com a cessação daquele alimento, aquilo que surgiu está sujeito a cessar, ou não’?” - “Sim, venerável senhor.”

11. “Bhikkhus, a dúvida é abandonada naquele que vê, como na verdade é, com correta sabedoria, da seguinte forma: ‘Isto surgiu’?” – “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, a dúvida é abandonada naquele que vê, como na verdade é, com correta sabedoria, da seguinte forma: ‘A sua origem ocorre tendo aquilo como alimento’?” – “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, a dúvida é abandonada naquele que vê, como na verdade é, com correta sabedoria, da seguinte forma: ‘Com a cessação daquele alimento, aquilo que surgiu está sujeito a cessar’?” – “Sim, venerável senhor.”

12. “Bhikkhus, vocês estão isentos de dúvidas com relação a isto: ‘Isto surgiu’?” – “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, vocês estão isentos de dúvidas com relação a isto: ‘A sua origem ocorre tendo aquilo como alimento’?”– “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, vocês estão isentos de dúvidas com relação a isto: ‘Com a cessação daquele alimento, aquilo que surgiu está sujeito a cessar’?” – “Sim, venerável senhor.”

13. “Bhikkhus, vocês viram bem, como na verdade é, com correta sabedoria, da seguinte forma: ‘Isto surgiu’?” – “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, vocês viram bem, como na verdade é, com correta sabedoria, da seguinte forma: ‘A sua origem ocorre tendo aquilo como alimento’?”– “Sim, venerável senhor.” – “Bhikkhus, vocês viram bem, como na verdade é, com correta sabedoria, da seguinte forma: ‘Com a cessação daquele alimento, aquilo que surgiu está sujeito a cessar’?” – “Sim, venerável senhor.”

14. “Bhikkhus, esse entendimento purificado e luminoso, se vocês aderirem a ele, amando-o e entesourando-o, e se o tratarem como se fosse uma posse, vocês então compreenderão o Dhamma que foi ensinado como semelhante a uma balsa, para ser utilizado para cruzar (a torrente) e não com o propósito de agarrar-se a ele?” [5] – “Não, venerável senhor.” - “Bhikkhus, esse entendimento purificado e luminoso, se vocês não aderirem a ele, não o amarem, não o entesourarem, e não o tratarem como se fosse uma posse, vocês então compreenderão o Dhamma que foi ensinado como semelhante a uma balsa, para ser utilizado para cruzar (a torrente), não com o propósito de agarrar-se a ele?” – “Sim, venerável senhor.”

(Alimento e Origem Dependente)

15. “Bhikkhus, existem esses quatro tipos de alimentos para a manutenção dos seres que já nasceram e para o sustento daqueles que estão em busca de um nascimento. Quais quatro? Eles são: o alimento comida, grosseira ou sutil, o contato como o segundo, a volição mental como o terceiro e a consciência como o quarto.[6]

16. “Agora, bhikkhus, o que esses quatro tipos de alimento possuem como origem, qual é o seu princípio, de que eles nascem e são produzidos? Esses quatro tipos de alimento possuem o desejo como origem, desejo como o seu princípio; eles nascem e são produzidos pelo desejo. E esse desejo o que possui como origem ... ? O desejo possui a sensação como origem ... E essa sensação o que possui como origem ... ? A sensação possui o contato como origem ... E esse contato o que possui como origem ... ? O contato possui as seis bases como origem ... E essas seis bases o que possuem como origem? As seis bases possuem a mentalidade-materialidade (nome e forma) como origem ... E essa mentalidade-materialidade (nome e forma) o que possui como origem ... ? A mentalidade-materialidade (nome e forma) possui a consciência como origem ... E essa consciência o que possui como origem ... ? A consciência possui as formações volitivas como origem ... E essas formações volitivas o que possuem como origem, qual é o seu princípio, de que elas nascem e são produzidas? As formações volitivas possuem a ignorância como sua origem, ignorância como o seu princípio; elas nascem e são produzidas pela ignorância.

(Explicação do Surgimento para Adiante)

17. “Portanto, bhikkhus, com a ignorância como condição, as formações volitivas (surgem); com as formações volitivas como condição, a consciência; com a consciência como condição, a mentalidade-materialidade (nome e forma); com a mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis bases; com as seis bases como condição, o contato; com o contato como condição, a sensação; com a sensação como condição, o desejo; com o desejo como condição, o apego; com o apego como condição, o ser/existir; com o ser/existir como condição, o nascimento; com o nascimento como condição, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.

(Questionário sobre o Surgimento em Ordem Reversa)

18. “’Com o nascimento como condição, envelhecimento e morte’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o envelhecimento e morte possuem, ou não, o nascimento como condição, vocês aceitam isso?”

“Envelhecimento e morte possuem o nascimento como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com o nascimento como condição, envelhecimento e morte.’”

“’Com o ser/existir como condição, nascimento’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o nascimento possui, ou não, o ser/existir como condição, vocês aceitam isso?”

“O nascimento possui o ser/existir como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com o ser/existir como condição, nascimento.’”

“’Com o apego como condição, ser/existir’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o ser/existir possui, ou não, o apego como condição, vocês aceitam isso?”

“O ser/existir possui o apego como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com o apego como condição, ser/existir.’”

“’Com o desejo como condição, apego’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o apego possui, ou não, o desejo como condição, vocês aceitam isso?”

“O apego possui o desejo como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com o desejo como condição, apego.’”

“’Com a sensação como condição, desejo’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o desejo possui, ou não, a sensação como condição, vocês aceitam isso?”

“O desejo possui a sensação como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com a sensação como condição, desejo.’”

“’Com o contato como condição, sensação’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, a sensação possui, ou não, o contato como condição, vocês aceitam isso?”

“A sensação possui o contato como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com o contato como condição, sensação.’”

“’Com as seis bases como condição, contato’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o contato possui, ou não, as seis bases como condição, vocês aceitam isso?”

“O contato possui as seis bases como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com as seis bases como condição, contato.’”

“’Com a mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis bases’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, as seis bases possuem, ou não, a mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, vocês aceitam isso?”

“As seis bases possuem a mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com a mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis bases.’”

“’Com a consciência como condição, mentalidade-materialidade (nome e forma)’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, a mentalidade-materialidade (nome e forma) possui, ou não, a consciência como condição, vocês aceitam isso?”

“A mentalidade-materialidade (nome e forma) possui a consciência como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com a consciência como condição, mentalidade-materialidade (nome e forma).’”

“’Com as formações volitivas como condição, consciência’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, a consciência possui, ou não, as formações volitivas como condição, vocês aceitam isso?”

“A consciência possui as formações volitivas como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com as formações volitivas como condição, consciência.’”

“’Com a ignorância como condição, formações volitivas’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, as formações volitivas possuem, ou não, a ignorância como condição, vocês aceitam isso?”

“As formações volitivas possuem a ignorância como condição, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com a ignorância como condição, formações volitivas.’”

(Recapitulação do Surgimento)

19. “Muito bem, bhikkhus. Assim vocês o dizem e eu também assim o digo: ‘Quando existe isso, aquilo existe; Com o surgimento disso, aquilo surge.’[7] Isto é, com a ignorância como condição, formações volitivas (surgem); com as formações volitivas como condição, consciência; com a consciência como condição, mentalidade-materialidade (nome e forma); com a mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis bases; com as seis bases como condição, contato; com o contato como condição, sensação; com a sensação como condição, desejo; com o desejo como condição, apego; com o apego como condição, ser/existir; como o ser/existir como condição, nascimento; com o nascimento como condição, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.

(Explicação da Cessação para Adiante)

20. “Mas com o completo desaparecimento sem deixar vestígios e cessação da ignorância ocorre a cessação das formações volitivas; com a cessação das formações volitivas, cessa a consciência; com a cessação da consciência, cessa a mentalidade-materialidade (nome e forma); com a cessação da mentalidade-materialidade (nome e forma), cessam as seis bases; com a cessação das seis bases, cessa o contato; com a cessação do contato, cessa a sensação; com a cessação da sensação, cessa o desejo; com a cessação do desejo, cessa o apego; com a cessação do apego, cessa o ser/existir; com a cessação do ser/existir, cessa o nascimento; com a cessação do nascimento, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero cessam. Essa é a cessação de toda essa massa de sofrimento.

(Questionário sobre a Cessação em Ordem Reversa)

21. “’Com a cessação do nascimento, cessam o envelhecimento e morte’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, o envelhecimento e morte cessam, ou não, com a cessação do nascimento, vocês aceitam isso?”

“Envelhecimento e morte cessam com a cessação do nascimento, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ’Com a cessação do nascimento, cessam o envelhecimento e morte.’”

“’Com a cessação do ser/existir, cessa o nascimento’ ... ’Com a cessação do apego, cessa o ser/existir’ ... ’Com a cessação do desejo, cessa o apego’ ... ’Com a cessação da sensação, cessa o desejo’ ... ’Com a cessação do contato, cessa a sensação’ ... ’Com a cessação das seis bases, cessa o contato’ ... ’Com a cessação da mentalidade-materialidade (nome e forma), cessam as seis bases’ ... ’Com a cessação da consciência, cessa a mentalidade-materialidade (nome e forma)’ ... ’Com a cessação das formações volitivas, cessa a consciência’ ... ’Com a cessação da ignorância, cessam as formações volitivas’: assim foi dito. Agora, bhikkhus, as formações volitivas cessam, ou não, com a cessação da ignorância, vocês aceitam isso?”

“As formações volitivas cessam com a cessação da ignorância, venerável senhor. Isso nós aceitamos: ‘Com a cessação da ignorância, cessam as formações volitivas.”

(Recapitulação da Cessação)

22. “Muito bem, bhikkhus. Assim vocês o dizem e eu também assim o digo: ‘Quando não existe isso, aquilo também não existe; Com a cessação disto, aquilo cessa.’ Isto é, com a cessação da ignorância, cessam as formações volitivas; com a cessação das formações volitivas, cessa a consciência; com a cessação da consciência, cessa a mentalidade-materialidade (nome e forma); com a cessação da mentalidade-materialidade (nome e forma), cessam as seis bases; com a cessação das seis bases, cessa o contato; com a cessação do contato, cessa a sensação; com a cessação da sensação, cessa o desejo; com a cessação do desejo, cessa o apego; com a cessação do apego, cessa o ser/existir; com a cessação do ser/existir, cessa o nascimento; com a cessação do nascimento, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero cessam. Assim é a cessação de toda essa massa de sofrimento.

(Conhecimento Pessoal)

23. “Bhikkhus, sabendo e vendo dessa forma, vocês voltariam ao passado assim: ‘Existimos no passado? Não existimos no passado? O que fomos no passado? Como éramos no passado? Tendo sido que, no que nos tornamos no passado?’” – “Não, venerável senhor.” – “Sabendo e vendo dessa forma, vocês se dirigiriam ao futuro assim: ‘Existiremos no futuro? Não existiremos no futuro? O que seremos no futuro? Como seremos no futuro? Tendo sido que, no que nos tornaremos no futuro?’” – “Não, venerável senhor.” – “Sabendo e vendo dessa forma, vocês estariam no seu íntimo perplexos sobre o presente assim: ‘Nós somos? Nós não somos? O que somos? Como somos? De onde veio este ser? Para onde iremos?’” [8] – “Não, venerável senhor.”

24. “Bhikkhus, sabendo e vendo dessa forma, vocês falariam assim: ‘Nós respeitamos o Mestre. Falamos desta forma por respeito ao Mestre’?” – “Não, venerável senhor.” – “Sabendo e vendo dessa forma, vocês falariam assim: ‘O Contemplativo diz isso e assim também outros contemplativos, mas nós não falamos dessa forma’?” – “Não, venerável senhor.” - “Sabendo e vendo dessa forma, vocês reconheceriam um outro mestre?” – “Não, venerável senhor.” - “Sabendo e vendo dessa forma, vocês retomariam as observâncias, debates tumultuados e sinais auspiciosos dos brâmanes e contemplativos comuns, tomando-os como sendo o núcleo (da vida santa)?” – “Não, venerável senhor.” – Vocês falam apenas sobre aquilo que vocês conheceram, viram e compreenderam por si mesmos?” – “Sim, venerável senhor.”

25. “Muito bem, bhikkhus. Portanto, vocês foram guiados por mim com este Dhamma, que é visível aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos sábios, por eles mesmos. Pois foi com referência a isso que foi dito: ‘Bhikkhus, este Dhamma, é visível aqui e agora, com efeito imediato, convida ao exame, conduz para adiante, para ser experimentado pelos sábios, por eles mesmos.’

(O Ciclo de Existência: da Concepção até a Maturidade)

26. “Bhikkhus, a concepção de um embrião num ventre ocorre através da união de três coisas. [9] Aqui, existe a união da mãe e do pai, mas não é o período fértil da mãe e o ser que irá renascer [10] não se encontra presente – neste caso não existe a concepção de um embrião no ventre. Aqui, existe a união da mãe e do pai e é o período fértil da mãe, mas o ser que irá renascer não se encontra presente – neste caso também não existe a concepção de um embrião no ventre. Mas quando existe a união da mãe e do pai e é o período fértil da mãe e o ser que irá renascer se encontra presente, através da união dessas três coisas ocorre a concepção de um embrião no ventre.

27. “A mãe então carrega o feto no seu ventre por nove ou dez meses com muita ansiedade, como um pesado fardo. Então, ao final de nove ou dez meses, a mãe dá à luz com muita ansiedade, como um pesado fardo. Então, quando o bebê nasce, ela o alimenta com o seu próprio sangue; pois na Disciplina dos Nobres o leite materno é chamado de sangue.

28. “Ao crescer e com o amadurecimento das faculdades, a criança brinca com arados de brinquedo, moinhos de vento de brinquedo, carros de brinquedo, arco e flecha de brinquedo, dá cambalhotas.

29. “Ao crescer e com (ainda mais) o amadurecimento das faculdades, o jovem goza, provido e dotado com os cinco faculdades dos prazeres sensuais, as formas percebidas pelo olho ... sons percebidos pelo ouvido ... aromas percebidos pelo nariz ... sabores percebidos pela língua ... tangíveis percebidos pelo corpo que são desejáveis, agradáveis e fáceis de serem gostados, conectados com o desejo sensual e que provocam a cobiça.

(A Continuidade do Ciclo)

30. “Ao ver uma forma com o olho, ele deseja a forma prazerosa e repele a forma des-prazerosa. Ele permanece sem estabelecer a atenção plena no corpo, com a mente limitada e ele não compreende, como na verdade é, a libertação da mente e a libertação através da sabedoria por meio da qual os estados ruins e prejudiciais cessam sem deixar vestígio. Engajado, como está, em desejar e repelir todas as sensações que sente – quer sejam prazerosas, dolorosas ou nem prazerosas, nem dolorosas – ele se delicia com aquelas sensações, ele as recebe com prazer e permanece apegado a elas. [11] Agindo assim, o deleite surge nele. Agora, o deleite com as sensações é apego. Com esse seu apego como condição, ser/existir (surge); com o ser/existir como condição, nascimento; com o nascimento como condição, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.

“Ao ouvir um som com o ouvido ... Ao cheirar um aroma com o nariz ... Ao saborear um sabor com a língua ... Ao tocar um tangível com o corpo ... Ao conscientizar um objeto mental com a mente, ele deseja o objeto mental prazeroso e repele o objeto mental des-prazeroso ... Agora, o deleite com as sensações é apego. Com esse seu apego como condição, ser/existir (surge); com o ser/existir como condição, nascimento; com o nascimento como condição, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.

(O Fim do Ciclo: o Treinamento Gradual)

31-38. “Aqui, bhikkhus, um Tathagatta surge no mundo, um arahant, perfeitamente iluminado ... (como no MN 27, versos 11-18) ... ele purifica a mente da dúvida.

39. “Tendo assim abandonado esses cinco obstáculos, imperfeições da mente que enfraquecem a sabedoria, afastado dos prazeres sensuais, afastado de estados prejudiciais, ele entra e permanece no primeiro jhana ... Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, ele entra e permanece no segundo jhana ... Abandonando o êxtase ... ele entra e permanece no terceiro jhana ... Com o completo desaparecimento da felicidade ... ele entra e permanece no quarto jhana ... que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas.

(O Fim do Ciclo: Completa Cessação)

40. “Ao ver uma forma com o olho, ele não deseja a forma prazerosa e não repele a forma des-prazerosa. Ele permanece com a atenção plena estabelecida no corpo, com a mente ilimitada e ele compreende, como na verdade é, a libertação da mente e a libertação através da sabedoria por meio da qual esses estados ruins e prejudiciais cessam sem deixar vestígio. [12] Tendo dessa forma abandonado o desejar e o repelir, todas as sensações que sente – quer sejam prazerosas, dolorosas ou nem prazerosas, nem dolorosas – ele não se delicia com aquela sensação, não a recebe com prazer e não permanece apegado a ela. [13] Agindo assim, o deleite com as sensações cessa nele. Com a cessação desse deleite ocorre a cessação do apego; com a cessação do apego, cessa o ser/existir; com a cessação do ser/existir, cessa o nascimento; com a cessação do nascimento, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero cessam. Assim é a cessação de toda essa massa de sofrimento.

“Ao ouvir um som com o ouvido ... Ao cheirar um aroma com o nariz ... Ao saborear um sabor com a língua ... Ao tocar um tangível com o corpo ... Ao conscientizar um objeto mental com a mente, ele não deseja o objeto mental prazeroso e não repele o objeto mental des-prazeroso ... Com a cessação desse deleite ocorre a cessação do apego; com a cessação do apego, cessa o ser/existir; com a cessação do ser/existir, cessa o nascimento; com a cessação do nascimento, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero cessam. Assim é a cessação de toda essa massa de sofrimento.

(Conclusão)

41. “Bhikkhus, lembrem-se desta libertação através da destruição do desejo da forma resumida como ensinei. Porém, o bhikkhu Sati, filho de um pescador, está preso numa vasta rede de desejo, está atado pelo desejo.”

Isso foi o que disse o Abençoado. Os bhikkhus ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.

 


 

Notas:

[1] De acordo com MA, através de um raciocínio falho baseado no renascimento, Sati chegou à conclusão de que uma consciência contínua que transmigra de uma existência para outra é necessária para explicar o renascimento. A primeira parte deste sutta (até o verso 8) reproduz a abertura do MN 22 sendo que a única diferença diz respeito à idéia que está sendo exposta. [Retorna]

[2] Esta é a última das seis idéias expostas no MN 2.8. [Retorna]

[3] MA: O objetivo deste símile é mostrar que não existe transmigração da consciência através das portas dos meios dos sentidos. Tal como um fogo de lenha queima na dependência da lenha e cessa quando o combustível se extingue, sem transmigrar a gravetos e passar a ser designado como um fogo de gravetos, assim também, a consciência que surgiu na porta do sentido do olho, na dependência do olho e das formas, cessa quando essas condições são removidas, sem transmigrar para o ouvido, etc. Portanto nesse sentido o Buda afirma que: “Quando a consciência ocorre, nem mesmo a mera transmigração de uma porta dos sentidos para outra existe, então como pode esse tolo Sati falar de uma transmigração de uma existência para a outra?”[Retorna]

[4] Bhutam idan ti. MA: “Isto” se refere aos cinco agregados. Tendo demonstrado a condicionalidade da consciência, o Buda menciona este trecho para mostrar a condicionalidade dos cinco agregados, que surgem através de condições, do seu “alimento,” e deixam de existir através da cessação dessas condições. [Retorna]

[5] Isto é dito para mostrar aos bhikkhus que eles não devem se apegar nem ao entendimento correto obtido através da meditação de insight. O símile da balsa se refere ao MN 22.13. [Retorna]

[6] Alimento, (ahara), deve ser compreendido em um sentido amplo como a condição proeminente para a manutenção da vida do ser. O alimento comida, (kabalinkara ahara), é uma condição importante para o corpo físico, o contato para a sensação, a volição mental para a consciência e a consciência para a mentalidade-materialidade (nome e forma), o organismo psicofísico na sua totalidade. O desejo é denominado a origem do alimento no sentido de que o desejo na existência anterior é a fonte da presente individualidade que depende e consome continuamente os quatro alimentos nesta existência. O Buda menciona este trecho e o seguinte conectando os alimentos com a origem dependente para demonstrar que ele conhece não somente os cinco agregados mas a cadeia completa de condições responsável pela existência daqueles. [Retorna]

[7] Esse é o resumo da origem dependente representada pela fórmula dos doze elos. O resumo da cessação é dado no verso 22. [Retorna]

[8] Igual ao MN 2.7. De acordo com MA este “voltar ao passado” e “dirigir-se ao futuro” ocorre devido ao desejo e às idéias. O trecho seguinte faz com que o ensinamento se torne absolutamente claro ao assegurar que os bhikkhus falem a partir do seu próprio conhecimento pessoal. [Retorna]

[9] A parte do discurso que segue, pode ser entendida como uma aplicação concreta da origem dependente, que até agora foi exposta apenas como uma fórmula doutrinária no transcurso de uma existência individual. Os versos 26-29 mostram os fatores, a partir da consciência até a sensação, que são o resultado da ignorância e formações volitivas no passado. O verso 40 mostra como os fatores causais do desejo e do apego mantêm a continuidade do ciclo do samsara. A seção seguinte, (versos 31-40), conectam a origem dependente à aparição do Buda e o seu ensinamento do Dhamma, mostrando que a prática do Dhamma é a maneira de dar um fim ao ciclo de renascimentos. [Retorna]

[10] Gandhaba. MA: O gandhaba é o ser que irá renascer. Não é alguém, (isto é, um espírito desencarnado), que está ali olhando os seus futuros pais manterem uma relação sexual mas, impulsionado pelo mecanismo de kamma, um ser que irá renascer naquela ocasião. [Retorna]

[11] MA explica que ele se delicia com a sensação dolorosa apegando-se a esta com os pensamentos de “eu” e “meu.” Ao buscar confirmação sobre a afirmação de que uma pessoa poderia se deliciar com sensações dolorosas, pensamos não somente no masoquismo, mas também na tendência mais comum das pessoas de colocarem a si mesmas em situações aflitivas como forma de reforçar a sua noção de “eu”. [Retorna]

[12] MA: Uma mente ilimitada, (appamanacetaso), é uma mente supramundana; isto significa que ele possui o caminho supramundano. [Retorna]

[13] Esta afirmação revela que a cadeia da origem dependente é rompida no elo entre a sensação e o desejo. A sensação surge necessariamente, pois o corpo adquirido através do desejo no passado está sujeito à maturação do kamma. No entanto, se ele não se deliciar com a sensação, o desejo não terá a oportunidade de surgir e disparar as reações de gosto e desgosto que provêem o ciclo de renascimentos com combustível adicional, e dessa forma o ciclo terá um fim. [Retorna

 

 

Revisado: 2 Abril 2014

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