Majjhima Nikaya 40
Cula-Assapura Sutta
O Pequeno Discurso em Assapura
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava entre os Angas numa cidade denominada Assapura. Lá ele se dirigiu
aos monges desta forma: “Bhikkhus” – “Venerável Senhor,” eles responderam. O
Abençoado disse o seguinte:
2.
“’Contemplativos, contemplativos,’ bhikkhus, assim é como as pessoas os
percebem. E quando vocês são perguntados, ‘O que vocês são?’, vocês afirmam que
são contemplativos. Visto que assim é como vocês são chamados e o que vocês
afirmam ser, vocês deveriam treinar da seguinte forma: nós praticaremos de modo
apropriado para um contemplativo, [1] para que
a nossa designação seja verdadeira e a nossa afirmação genuína de forma que a
generosidade daqueles, cujos mantos, comida esmolada, moradia e medicamentos
nós utilizamos, lhes tragam grandes frutos e benefícios, para que a nossa vida
santa não seja em vão, mas frutífera e fértil.’
3. “Como,
bhikkhus, um bhikkhu não pratica de modo apropriado para um contemplativo?
Enquanto um bhikkhu for cobiçoso e não tiver abandonado a cobiça, tiver má vontade e não tiver abandonado a má vontade,
for enraivecido e não tiver
abandonado a raiva, for vingativo e não
tiver abandonado a vingança, for desdenhoso e não tiver abandonado o desdém,
for dominador e não tiver abandonado a dominação, for invejoso e
não tiver abandonado a inveja, for avarento e não tiver abandonado a avareza,
for fraudulento e não tiver abandonado a fraude, for enganador e não tiver
abandonado a enganação, enquanto ele tiver desejos ruins e não tiver abandonado os desejos ruins,
tiver entendimento incorreto e não tiver abandonado o
entendimento incorreto; [2] então ele
não pratica de modo apropriado para um contemplativo, eu digo, devido à sua
falha em relação ao abandono dessas máculas de contemplativo, defeitos de
contemplativo, dessas escórias de contemplativo, que são a base para o
renascimento num estado de privação e cujos resultados serão experimentados num
destino infeliz.
4. “Suponha
que uma faca do tipo mataja, bem afiada em ambos os fios, estivesse envolvida e
encaixada numa bainha feita com retalhos. Eu digo que essa vida santa de um
bhikkhu é semelhante a isso.
5. “Eu não
digo que o status de contemplativo daquele que veste um manto feito de retalhos
provenha do mero vestir mantos feitos de retalhos, nem que o de um asceta nu
provenha da mera nudez, nem que o daquele que habita na sujeira e pó provenha
da mera sujeira e pó, nem que o daquele que se purifica com a água provenha da
mera purificação com água, nem que o daquele que habita sob as árvores
provenha do mero habitar sob as árvores, nem que o daquele que habita a céu
aberto provenha do mero habitar a céu aberto, nem que o daquele que pratica o
ficar sempre em pé provenha do mero ficar sempre em pé, nem que o daquele que
se alimenta em intervalos definidos provenha do mero fato de se alimentar em
intervalos definidos, nem que o daquele que recita os mantras provenha da mera
recitação de mantras, nem digo que o status de contemplativo daquele asceta que
usa o cabelo emaranhado e sujo provenha do mero uso do cabelo emaranhado e sujo.
6.
“Bhikkhus, se, através do mero uso de mantos feitos de retalhos, aquele que
veste mantos feitos de retalhos, que fosse cobiçoso, abandonasse a cobiça, que tivesse
a mente com má vontade, abandonasse a má vontade ... que tivesse entendimento
incorreto, abandonasse o entendimento incorreto, então os seus amigos e
companheiros, os seus pares e parentes, fariam dele alguém que se veste com
mantos feitos de retalhos assim que ele tivesse nascido e fariam com que ele
adotasse o vestir-se com mantos feitos de retalhos assim: ‘Venha, meu querido,
seja um que se veste com mantos feitos de retalhos para que, sendo um que se
veste com mantos feitos de retalhos, quando você for cobiçoso, você abandonará
a cobiça, quando você tiver a mente com má vontade, você abandonará a má
vontade ... quando você tiver o entendimento incorreto, você abandonará o
entendimento incorreto.’ Mas eu aqui vejo os que se vestem com mantos feitos de
retalhos, cobiçosos, com a mente com má vontade ... com o entendimento
incorreto; e é por isso que eu não digo que o status de contemplativo, daquele
que veste um manto feito de retalhos, provenha do mero fato de vestir mantos
feitos de retalhos.
“Se através
da mera nudez um asceta nu, que fosse cobiçoso, abandonasse a cobiça ... se
através da mera sujeira e pó ... se através da mera purificação com água ... se
através do mero habitar sob as árvores ... se através do mero habitar a céu
aberto ... se através do ficar sempre em pé ... se através do alimentar-se em
intervalos definidos ... se através da mera recitação de mantras ... se através
do mero uso do cabelo emaranhado e sujo... ;e é por isso que eu não digo que o
status de contemplativo daquele asceta que usa o cabelo emaranhado e sujo
provenha do mero uso do cabelo emaranhado e sujo.
7. “Como,
bhikkhus, um bhikkhu pratica de modo apropriado para um contemplativo? Quando
qualquer bhikkhu, que era cobiçoso, abandonou a cobiça, que tinha
má vontade, abandonou a má vontade, que era enraivecido, abandonou
a raiva, que era vingativo, abandonou a
vingança, que era desdenhoso, abandonou o desdém, que era dominador, abandonou
a dominação, que era invejoso, abandonou a inveja, que era
avarento, abandonou a avareza, que era fraudulento, abandonou a fraude, que era
enganador, abandonou a enganação, que tinha desejos ruins, abandonou os desejos ruins, que tinha entendimento incorreto,
abandonou o entendimento incorreto, então ele pratica de modo apropriado
para um contemplativo, eu digo, devido ao
abandono dessas máculas de contemplativo, defeitos de contemplativo,
essas escórias de contemplativo, que são a base para o renascimento num estado
de privação e cujos resultados serão experimentados num destino infeliz.
8. “Ele vê
a si mesmo purificado desses estados ruins e prejudiciais, ele vê a si mesmo
libertado deles. Quando ele vê isso, a satisfação surge nele. Quando ele está satisfeito,
o êxtase surge nele; naquele que está em êxtase, o corpo se torna tranqüilo;
aquele, cujo corpo está tranqüilo, sente felicidade; naquele que sente felicidade, a
mente fica concentrada.
9. “Ele
permanece com o coração pleno de amor bondade, permeando o primeiro quadrante com a mente imbuída de amor bondade, da mesma forma o segundo, da mesma
forma o terceiro, da mesma forma o quarto; assim acima, abaixo, em volta e em
todos os lugares, para todos bem como para si mesmo, ele permanece
permeando o mundo todo com a mente imbuída de amor bondade, abundante, transcendente, imensurável,
sem hostilidade e sem má vontade.
10-12. “Ele
permanece com o coração pleno de compaixão, permeando o primeiro quadrante com a mente imbuída de compaixão … com a mente
imbuída de alegria altruísta …
com a mente imbuída de
equanimidade, da mesma forma o segundo, da mesma forma o terceiro, da mesma forma
o quarto; assim acima, abaixo, em volta e em todos os lugares e para todos, bem
como para si mesmo, ele permanece permeando o mundo todo com a mente
imbuída de equanimidade,
abundante, transcendente, imensurável, sem hostilidade e sem má vontade.
13. “Suponham que houvesse um lago com a água límpida, agradável e
fresca, cristalina, com as margens aplainadas, encantador. Se um homem,
queimado e exausto devido ao calor, cansado, ressecado e sedento, viesse do
leste ou do oeste ou do norte ou do sul ou de onde vocês queiram, tendo chegado
no lago ele saciaria a sua sede e a febre devido ao calor. Da mesma forma,
bhikkhus, se qualquer um de um clã de nobres segue a vida santa e depois de ter
encontrado o Dhamma e a Disciplina proclamados pelo Tathagata, desenvolve o
amor bondade, compaixão, alegria altruísta e equanimidade, e dessa forma obtém
a paz interior, então devido a essa paz interior ele pratica de modo apropriado
para um contemplativo, eu digo. E se qualquer um de um clã de brâmanes segue a
vida santa .... se qualquer um de um clã de comerciantes segue a vida santa ...
se qualquer um de um clã de trabalhadores segue a vida santa, e depois de ter
encontrado o Dhamma e a Disciplina proclamados pelo Tathagata, desenvolve o
amor bondade, compaixão, alegria altruísta e equanimidade, e dessa forma
obtém a paz interior, então devido a essa paz interior ele pratica de modo
apropriado para um contemplativo, eu digo.
14.
“Bhikkhus, se qualquer um de um clã de nobres segue a vida santa, e
compreendendo por si mesmo com o conhecimento direto, ele, aqui e agora entra e
permanece na libertação da mente e libertação através da sabedoria que são
imaculadas, com a destruição de todas as impurezas, então ele já é um
contemplativo devido à destruição das impurezas. [3] E se qualquer um de um clã de brâmanes ... se qualquer um de um clã de comerciantes ...
se qualquer um de um clã de trabalhadores segue a vida santa, e compreendendo
por si mesmo com o conhecimento direto ele aqui e agora entra e permanece na
libertação da mente e libertação através da sabedoria que são imaculadas, com a
destruição de todas as impurezas, então ele já é um contemplativo devido à
destruição das impurezas.”
Isso foi o que disse o Abençoado. Os bhikkhus ficaram
satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Enquanto que o sutta anterior usa a frase
“coisas que fazem de
alguém um contemplativo” (dhamma
samanakarana), este sutta diz “praticaremos de modo apropriado para um
contemplativo” (samanasamicipatipada)
. [Retorna]
[2] As primeiras dez dessas doze “máculas para
um contemplativo” fazem parte das dezesseis “imperfeições que contaminam a mente” no MN 7.3. [Retorna]
[3] MA: Porque ele silenciou (samita)
todas as contaminações, ele é um contemplativo no sentido mais elevado (paramatthasamana). [Retorna]
Revisado: 2 Março 2008
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